O Brasil passou vergonha, foi visto pelo mundo todo como um país de mentirosos ao negar o desmatamento e as queimadas na Amazônia. Na contramão do dito pelas autoridades, 2019 foi um ano marcado pela agressão galopante e desenfreado na Amazônia. Pois, levados pelos indícios das mudanças do clima pelo planeta afora, denúncias, ações de ativistas e preocupação de países vários, o dicionário Oxford escolheu – como faz tradicionalmente todos os anos – a expressão “emergência climática” ou climate emergency, como a palavra do ano de 2019.
Claro que a desafeta de Trump e de Jair Bolsonaro, a adolescente Greta Thunberg, escolhida pela revista Time como a personalidade do ano, ajudou muito a Oxford eleger o verbete que expressa o caráter, humor ou preocupações do ano que se vai. Os dicionaristas também optam por escolher as expressões e palavras que terão um significado duradouro. E a questão do ambiente não se findará num ano novo. Neste caso pode levar décadas, ou, quem sabe, até o fim do mundo. No ano de 2018, escrevi aqui, foi escolhida a palavra “tóxico”. O mundo se encontrava – e ainda continua – num estado tal que tudo faz mal, seja na questão ambiental, social ou política e o Brasil contribui em muito para este estado, notadamente com sua neo-indigência política.
A “emergência climática”, conforme levantou a Universidade de Oxford, que fica no Reino Unido, começou o ano de 2019 quase sem chamar a atenção, mas foi ganhando corpo até dominar os meios de comunicação e as discussões, como tema recorrente. No mês de setembro, para citar um período. A utilização da expressão superou em mais de cem vezes a ocorrência registrada em 2018. Foi um período de protestos pelo planeta, pedindo mais ações dos governos para evitar o caos no clima.
Palavras equivalentes também foram detectadas. Expressos: “crise climática”, “ação climática”, “previsão climática”, “variação climática” e muitas correlatas. A Oxford mostra que houve aumento da frequência da palavra em trabalhos científicos. Cita por exemplo artigo da revista “BioScience” – assinado por 11.258 cientistas de 153 países – defendendo a “obrigação moral” de cientistas de “alertar claramente a humanidade sobre qualquer ameaça catastrófica” e apresentar suas pesquisas para demonstrar “que o planeta enfrenta uma emergencia climática”.
Em 2019 a questão ganhou nível multilateral na ONU – Organização das Nações Unidas com a Cúpula do Clima feita às vésperas da Assembleia-Geral. Também no encontro do G-7, na França, as queimadas na Amazônia, que chocam o mundo civilizado, foi o centro das atenções. Os ativistas conseguiram demonstrar força, pressionando governos e organismos internacionais promovendo grandes e históricas manifestações. As rebeliões se espalharam, teve greve, teve coquetel Molotov, balas de borracha. Tudo em nome do santo clima. Pense nisso quando você agir contra o meio-ambiente ou apoiar quem não liga a mínima. Estamos numa “emergência climática” cara pálida.
*Jolivaldo Freitas
Escritor e jornalista
Autor dos livros “Vulgar”, “Baianidade” e “Histórias e Folclore da Avenida Sete”. Email: Jolivaldo.freitas@yahoo.com.br