Nos últimos 30 anos, a temperatura subiu em praticamente todo o Brasil. Na Bahia, o maior aumento foi registrado no oeste, região considerada a segunda maior produtora de algodão do país. Com o salto de cerca de 1,5ºC nos termômetros, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), os pesquisadores têm debatido alternativas para que o calor não atrapalhe o desenvolvimento das lavouras.

As análises do Instituto levam em consideração as temperaturas de duas amostras de tempo, ambas de 30 anos: de 1961 a 1990; e de 1991 a 2020. Quando as temperaturas máximas dos dois períodos são comparadas, a diferença fica entre 1,2ºC e 1,5ºC.

Apesar de não parecer tanto, o aumento de 1,5ºC pode ser um sinal de alerta para a agricultura. De acordo com Miriam Nogueira, doutora em fitotecnia e professora da Universidade Federal do Oeste da Bahia (Ufob), apesar do algodão ser um grande fã do sol, as temperaturas extremas podem causar prejuízos às lavouras. “A média de temperatura ideal é entre 25ºC e 30ºC. Estudos já apontam que a cada aumento de dois graus nesta temperatura média, há uma queda de produtividade”, afirmou.

A produção de algodão movimentou R$ 7,3 bilhões entre 2022 e 2023 na Bahia. Em relação ao período anterior, o aumento foi de 7%.

Temperaturas e plantação

Historicamente, o oeste da Bahia sempre foi mais quente quando comparado a cidades litorâneas, como Salvador e Ilhéus. O clima da região se assemelha ao do centro-oeste do Brasil: mais seco, com menos umidade e com grande amplitude térmica.

Além disso, de acordo com a meteorologista Cláudia Valéria, no oeste do estado o período chuvoso acontece entre a segunda quinzena de outubro e março. Nos outros cinco meses do ano, entre abril e setembro, não há registros de chuvas – o que torna o ambiente ideal para o plantio do algodão. “O algodão adora ‘céu de brigadeiro’ e a radiação influencia na qualidade da fibra, que é o que a indústria têxtil exige. Ou seja, quanto mais radiação, melhor a qualidade”, explicou a meteorologista.

Apesar da preferência pelo sol, o aumento das temperaturas pode causar uma série de danos às plantas. Temperaturas médias acima dos 35ºC, podem contribuir para:

  • Retardamento no crescimento vegetativo;
  • Estresse térmico, que pode gerar desidratação;
  • Diminuição da eficiência da fotossíntese;
  • Impactos na qualidade da fibra.

A qualidade da fibra é um ponto extremamente importante na cadeia do algodão: é ela que determina o preço pelo qual ele será vendido para a indústria. Enquanto temperaturas médias entre 25ºC e 30ºC resultam em fibras de melhor qualidade, aquelas acima de 35ºC podem resultar no contrário.

“Temperaturas extremas podem resultar em fibras mais curtas, que são inferiores. No processo de fiação, elas não entrelaçam muito bem o que gera aquelas ‘bolinhas’ na roupa. As características da fibra ditam para onde o algodão vai”, explicou a professora Miriam Nogueira.

Além do alerta para o aumento das temperaturas médias, o cultivo de algodão no oeste da Bahia exige um cuidado com as queimadas, frequentes nesta época do ano. “O cerrado tem um índice de inflamabilidade muito intenso. Tem uma época que temperatura é alta e a umidade relativa do ar é baixa, então é como se a gente tivesse acendendo um fósforo. É um fenômeno natural”, explicou o agrometeorologista e professor da Universidade Estadual da Bahia (Uneb), Marcos Vanderlei.

Fonte//G1 – Foto//ABAPA

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