Fui buscar o significado de Ildásio e me debati com tantas informações que preferi não me afogar. Mas, uma página chama a atenção – até mesmo para quem é incrédulo como todos nós. Fala de numerologia e quando traça o perfil do designado, parece até que conheciam o poeta, teatrólogo, escritor, jornalista e compositor Ildásio Tavares. Diz lá no texto com título “Sua marca no mundo” que aquele que possui este nome, carrega em si, a generosidade, o saber dividir, entender a necessidade dos outros e sente-se bem ajudando como pode. Está ligado a profissões onde possa exercer este seu lado. “Sempre pensando num mundo melhor”. Ildásio, era assim em expressão, pois o conheci bem, jornalista mercurial, e tive a honra de ser seu editor no Caderno de Cultura.
Decidi começar falando da personalidade de Ildásio para exortar a beleza expressionista da sua ópera, que depois de mais de duas dezenas de anos na gaveta foi retirada pelos filhos Ildásio Jr e Gil Vicente Tavares, tendo sido apresentada com gala, sucesso, emoção e aplausos que não queriam cessar, no mês de novembro no Teatro Castro Alves. Acho que um trabalho tão belo e criativo tem de voltar ao TCA, tem de ir para o Vila Velha, lá para o Cuca, em Feira de Santana; para o Glauber Rocha, em Conquista; ao Municipal de Ilhéus e para todas as regiões da Bahia, e sim, invadir o Sul, Norte, Nordeste e Sudeste. Por ser peça rara. Ópera preciosa com o dedo do também genial maestro Lindembergue Cardoso.
Interessante é que Ildásio decidiu fazer uma ópera, à época, numa cidade tomada pelo Axé Music e pelo besteirol. Muita ousadia. E mais: ópera negra, voltada para a crítica à escravidão com os pés na realidade política e social do seu tempo e que se amalgama nos tempos de agora, como se estivesse sido escrito ontem (Brasil que não muda e parece que o poeta sempre saberia). Peça produzida e concebida em Iorubá e Português, ópera única, conceituação ousada na abordagem de uma crespo motivo que é a religião afro-brasileira. Os ideais de liberdade do povo negro.
A ópera se originou da sua peça “Os Sete Poemas Negros”. Virou o libreto “O Barão de Santo Amaro” e com o esmero criativo do maestro Lindembergue ganhou asas, como um filho direto de Castro Alves. E Gil Vicente, diretor da versão atual, imprime sua experiência e engenho (mestre do Teatro Nu) dando mais alma ao que já era emblemático e plástico. “Lídia de Oxum – A ópera baiana” é mais que um musical. É obra de arte. É um eterno panfleto feito com tinta, suor, canto, sangue, cordas, percussões, pés no chão e muito amor. Que não leve mais tantos anos para voltar à cena. Sim, também foi emocionante ver o espectador negro se sentindo representado na peça, emocionados e ativos na plateia do Teatro Castro Alves. Ainda ouço a aclamação. “Èpao, èpa bàbá!”, Ildásio.
Jolivaldo Freitas
Escritor e jornalista. Autor de “Histórias da Bahia – Jeito Baiano” – “Baianidade…” e A Engenharia e a História da Bahia”.
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