Nas ultimas horas, tivemos conhecimentos de casos, cada vez mais comuns, entre nós seres humanos, de pessoas, que invariavelmente descuidadas acabam dizendo bobagens que talvez não quisessem dizer ou não diriam se soubessem que estavam sendo gravadas através de algum instrumento midiático. Cito os casos do jogador Felipe Melo, que sob o efeito de uns champanhes no aniversário da esposa foi gravado, provavelmente por um celular, chamando seu treinador no Palmeiras, Cuca, de mau caráter, entre outras coisas, e há também, o caso do jornalista e radialista Wianey Carlet, que foi demitido do Grupo RBS, depois de dizer sem saber que estava sem gravado, que não sentia tanto a morte do colega Paulo Sant’Ana, porque achava ele um grande fdp. Ambos os casos, um sob o efeito do álcool e outro, tomado pela cólera, demonstram que o ser humano não está preparado para a nova era das mídias. Com o advento do celular e a sua difusão em proporções gigantescas pelo mundo globalizado, somos todos um “cacique Juruna”, celebre índio deputado que andava com um gravador gravando o homem branco de Brasília e suas promessas. Somos milhões de Jurunas, não só com gravadores de áudios, mas munidos de câmeras de fotos e vídeos. Mas, ao invés de utilizarmos isso para o bem da humanidade, toscamente, estamos usando para a propagação da fofoca, do sensacionalismo midiático. Ademais, tais instrumentos de mídia, viraram peça de acusação no tribunal das redes sociais. Aliás, George Orwell, quando escreveu sua obra chamada de O Grande Irmão ( Big Brother), de 1984, talvez não tivesse noção, que o Grande Irmão, não estaria somente a serviço de um estado fascista ou comunista, de viés totalitário, mas sim, uma rede (internet) a serviço da vigilância total humana diária, praticada por cada indivíduo. Os casos de Felipe Melo e Wianey são recentes, mas repetem-se diariamente de todas as formas, ainda mais com conotações pitorescas do cotidiano íntimo de cada ser. Quem já não teve conhecimento de alguma pessoa comum ou de uma celebridade que teve seus vídeos ou fotos intimas, vazadas maldosamente na rede social? E o pior, a reputação das pessoas é julgada instantaneamente no Tribunal das Redes Sociais, sem direito a ampla defesa ou contraditório. Todo e qualquer indivíduo, mesmo que não tenha qualquer embasamento teórico virou um juiz criminalista de botequim ou, melhor, de computador. Condena-se e absolve-se, sem qualquer cerimônia, sem qualquer pudor, basta a pessoa ter um computador com acesso a internet. Ainda que, não exista como na Velha Inquisição, condenação às fogueiras, na prática, as sentenças dos senhores e senhoras da rede social, pode destruir vidas. É o grande Big Brother Humano, a serviço da fofoca, da vigilância total. Não bastasse o governo e a imprensa com câmeras espalhadas em ruas, prédios e eventos, conseguimos nos transformar em vigilantes da moral alheia. Vigiando e vigiados. Àquelas velhinhas fofoqueiras de porta de casa ficaram obsoletas. Estamos vivendo a época do Grande Irmão e o Tribunal Inquisidor das Redes Sociais.