Era 1997, Encontro Internacional de Jornalismo em Salvador, ali estavam grandes nomes da imprensa Mundial, alguns já veteranos caso do repórter Peter Arnett da CNN, aquele que conseguiu transmitir a guerra do golfo através de um “moderno” telefone via satélite em cima de um hotel; Paulo Henrique Amorim recém saído da Globo e sendo a grande estrela da TV Bandeirantes, o irreverente Márcio Canuto, Sílio Boccanera corresponde internacional também da TV Globo e um que começava a ganhar os olhares de todos Marcelo Rezende, tal fama se dava por causa da grande matéria que alguns chamam de divisor de águas, o caso da “Favela Naval” .
A matéria que foi ao ar em março de 1997 mostrava dez policiais flagrados por um cinegrafista amador, que recebeu o codinome de Pica-Pau , torturando e atirando em pessoas durante operações na Favela Naval, em Diadema, SP, virou um marco do telejornalismo nacional e mundial. Foi digno de vários prêmios e a partir daí o Marcelo ganhou fama e prestígio dentro da Globo e toda a imprensa. Foi ali que tive a oportunidade de manter o primeiro contato com alegre e animado Marcelo Rezende , que contou com detalhes como conseguiu amarrar a matéria tão polêmica, os conselhos de como o jornalista deve ir para conseguir a notícia e até mesmo um cafezinho onde ele sempre sorridente falava do futuro do jornalismo. Naquele momento perguntei ao Marcelo como foi lidar com a pressão da matéria e ao mesmo tempo proteger a sua fonte, o cinegrafista amador Pica-Pau? Marcelo olhou para mim e disse, ” Não foi fácil pois ninguém a não ser 2 dos meus diretores sabiam que era o Pica-Pau, tive que mudar minha rotina por que dentro da Redação todos queriam saber da onde tinha conseguindo tal furo de reportagem, as negociações com o Pica-Pau ficaram tensas depois que a matéria ganhou repercussão internacional, ele queria dinheiro e garantias, a polícia também queria saber quem era, até minha mulher ficava perguntando quem era o tal Pica-Pau, aí o Marcelo disse que a única saída foi usar uma estratégia de espionagem, não esconder o Pica-Pau falar com ele em lugares públicos abertamente com outras pessoas ao mesmo tempo, quem ia saber quem era o Pica-Pau naquela multidão e assim foram feitos todos os encontros com Pica-Pau em lugares com muitas pessoas sem mudar a rotina.”
Depois o Marcelo chegou a ganhar um programa policial / entretenimento na Rede Globo chamado Linha Direta, inclusive quando Chefe de Redação da Tv Oeste tivemos a oportunidade de contribuir e muito com o programa, o caso mais relevante foi quando a equipe de jornalismo da época ( Repórter Alessandra Bacelar e cinegrafista Antônio Jacobina ) conseguiram registrar a morte de Marcos Capeta, um bandido que tinha ganhado fama de ser o novo lampião do Nordeste, perigoso e que vinha aterrorizando várias cidades e veio morrer aqui na Região. Naquele dia Marcelo Rezende entrou em contato comigo, “Olha precisamos dessa matéria aqui com urgência, ela é muito importante vai ser o carro chefe do programa “, quem estiver lendo pode não está entendo, mas era 1999, a Tv Oeste ainda não tinha transmissão de imagens para outras estações e tínhamos menos de 30 horas para que o material estivesse em Salvador ou Brasília onde as imagens seriam geradas, foi mais um grande sufoco toda a equipe concentrada para fazer um grande trabalho de logística e levar a matéria da morte de Marcos Capeta para o jornal Nacional, Fantástico e o Linha Direta do Marcelo Rezende, hoje a transmissão é feita on line.
Foram esses os meus contatos com o competente repórter Marcelo Rezende que veio do esporte e depois caiu no geral do jornalismo para depois se tornar apresentador de programas policiais de fim de tarde e que deixa bordões como: “Corta Pra Mim “, ” Quero imagens aéreas “, ” Isso vai virar um Sururu” e tantas outras.
Marcelo Rezende de 65 anos, morreu no fim da tarde deste sábado (16). Internado no Hospital Moriah, no bairro de Moema, na zona sul de São Paulo, ele travava uma batalha contra o câncer e teve falência múltipla dos órgãos, o velório está sendo realizado na Assembleia Legislativa de São Paulo.
Vá em paz Marcelo Rezende.