O governo cubano anunciou, nesta quarta-feira (14/11), que deixará o Programa Mais Médicos, do qual participa desde 2013, no Brasil. Em carta enviada à Organização Panamericana de Saúde (Opas), o Ministério da Saúde Pública de Cuba afirma que a decisão se deve a declarações recentes do presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro. Ao todo, 18.240 prossifionais trabalham na saúde básica por meio do programa.
“O presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, com referências diretas, desrespeitosas e ameaçadoras à presença de nossos médicos, declarou e reiterou que modificará termos e condições do Programa Mais Médicos, com desrespeito à Organização Panamericana de Saúde e ao acordado por esta com Cuba”, diz um trecho do comunicado (leia íntegra abaixo, em espanhol).
“Portanto, diante desta lamentável realidade, o Ministério da Saúde Pública de Cuba tomou a decisão de não continuar participando no Programa Mais Médicos e assim o comunicou à diretora da Opas e aos líderes brasileiros que fundaram e defenderam esta iniciativa”, prossegue.
Bolsonaro usou as redes sociais para comentar a decisão do governo cubano. Segundo ele, o país não aceitou suas condições para seguir a parceria. “Condicionamos à continuidade do programa Mais Médicos a aplicação de teste de capacidade, salário integral aos profissionais cubanos, hoje maior parte destinados à ditadura, e a liberdade para trazerem suas famílias. Infelizmente, Cuba não aceitou”, escreveu Bolsonaro.
Integrante do Observatório da Saúde e professor de medicina aposentado da Universidade de Brasília (UnB), Flávio Goulart, lamentou a descontinuidade do programa. “Ele permitiu que pessoas que nunca tiveram contato com médico tivessem acesso a medicina. Esse é o lado humano. Além disso, tem o lado técnico. Onde o programa atuou tem vários índices de melhora na atenção primária à saúde”, explica.
Para ele, o Brasil não não tem condições de repor os médicos cubanos. “O prejuízo é muito grande. O país não tem como repor esses profissionais rapidamente. As universidades têm formado mais médicos, mas o nosso processo ainda é de formar especialistas e não médicos que possam dar atendimento imediato”, conclui.
Ao todo, 63 milhões de brasileiros passaram a ter atendimento médico com a instalação do Programa Mais Médicos, em 2013, segundo dados do MMinistério da Saúde. A cobertura do Mais Médicos na atenção básica é de 72,69% em outubro de 2018.
O mais recente balanço do progarma, divulgado em 2016, pontuou que a ação é responsável por 48% das equipes de atenção básica em municípios com até 10 mil habitantes. Em 1,1 mil cidades atendidas pelo programa, ele representava toda a cobertura de saúde básica. Apesar da polêmica, o Mais Médico contrata profissionais de diversas nacionalidades.