A piscicultura é uma das atividades agrícolas com maior potencial de crescimento no Brasil. Por ano, segundo dados da Pesquisa Pecuária Municipal de 2017 do IBGE, são produzidas 485.284 mil toneladas de peixes no País. Um número que, de acordo com o relatório “O Estado Mundial da Pesca e Aquicultura 2016 (Sofia)”, da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), deve ter um aumento de até 104% até 2025.
Para alcançar esta produção, muitos investimentos têm sido feitos tanto na abertura de linhas de créditos para o aquicultor como no desenvolvimento de pesquisas. Em Barra, professores da UFOB analisam a viabilidade de utilização de uma ração, composta por frutas regionais, a exemplo do caju, buriti, manga e mangaba, em substituição a ingredientes convencionais, como farelo de milho e trigo, em dieta nutricional para Tilápia do Nilo.
A pesquisa, coordenada pelo professor Anderson Miranda de Souza, está dividida em duas etapas. Na primeira, os estudantes bolsistas do projeto realizam a coleta dos frutos nas propriedades rurais, a maior parte descartado na colheita. Depois, são cortados misturados a um antifúngico e colocados ao sol para dessecar. Terminado este processo, o material é levado para o Laboratório de Aquicultura e Nutrição (Laquan), sediado no Centro Estadual de Educação Profissional Águas (CEEP Águas), para que seja triturado e adicionado a outros ingredientes para produzir a ração, de acordo exigência para a espécie (veja o passo a passo no vídeo).
Na segunda etapa, são realizados três experimentos. No primeiro, intitulado digestibilidade, os peixes são mantidos em tanques de fibra de vidro com capacidade de 200 litros. Um fundo cônico ajuda a coletar as fezes dos animais. Por meio delas, os ingredientes utilizados na ração são avaliados para aferir a sua digestibilidade e seu perfil nutricional.
Nos dois outros experimentos, são analisados o desempenho dos peixes, ou seja, os efeitos da inclusão dos alimentos com maior valor nutritivo nas dietas dos peixes. Para tanto, são utilizados 480 alevinos de Tilápia do Nilo, distribuídos em 20 tanques circulares de PVC, com capacidade de 80 litros de volume útil.
Primeiros resultados
O Caju, na forma de farelo, foi o primeiro alimento a ser testado na ração. Com ele, a substituição aos carboidratos convencionais (milho e trigo) chegou a 75%, resultado considerado muito bom para o crescimento dos alevinos de Tilápia do Nilo.
Para o professor Anderson, o desempenho apresentado revela o alto valor biológico e nutricional da fruta regional. “A aplicação da tecnologia social para produção desta ração de baixo custo e com grande potencial nutritivo trará melhorias para a piscicultura no Oeste da Bahia”, destaca.
Após os experimentos e a melhor estruturação dos resultados, a ideia é patentear os ingredientes e também aplicá-los a nutrição de aves. A pesquisa é desenvolvida por uma equipe composta por oito professores, sendo cinco da UFOB e três de outras instituições, e dois estudantes bolsistas de Iniciação Científica.