O Rio Grande do Sul é o estado com maior taxa de mortalidade relacionada ao câncer, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca). O que já era preocupante fica ainda mais assustador quando observamos a incidência da doença na microrregião de Ijuí: a taxa de mortalidade local supera tanto a gaúcha quanto a nacional segundo pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). E a causa do problema pode estar no uso de agrotóxicos, segundo aponta reportagem da BBC.
É difícil negar a relação entre os números de mortes por câncer e o uso dos agrotóxicos: o noroeste gaúcho é campeão nacional no uso das substâncias, segundo o IBGE. Como agravante, muitos dos agricultores são provenientes de populações de baixa renda e possuem pouca informação sobre o manuseio correto das substâncias.
No Brasil, o uso dos defensivos agrícolas aumentou em 155% entre 2002 e 2012, segundo um estudo elaborado pelo IBGE. No período, o uso dos agrotóxicos foi de 2,7 para 6,9 quilos por hectare. Mais preocupante ainda é o fato de que 64,1% destes venenos foram considerados perigosos e 27,7% deles muito perigosos. Descontando estes números, sobram apenas 8,2% de agrotóxicos “fora de risco“. Desde 2009, nosso país detém o desagradável título de líder no consumo destas substâncias.
Mas o que era para estar acabando apenas com as pragas nas plantações também começa a vitimar os agricultores que ganham a vida na lavoura. Mesmo aqueles que não utilizam agrotóxicos também podem ser vítimas dos efeitos nocivos das substâncias utilizadas em propriedades vizinhas, principalmente quando estas são pulverizadas com o uso de aviões.
O agrotóxico mais utilizado no país é o glifosato, fabricado pela Monsanto, que já foi associado ao surgimento de câncer de mama e próstata, além de outros problemas. Para a Organização Mundial de Saúde, a substância é classificada como provavelmente cancerígena.
O problema pode até ser menor para quem vive em grandes cidades, mas ele também está presente nelas. Afinal, os agrotóxicos também chegam até nós através da alimentação e da contaminação da água e do ar. Segundo pesquisa desenvolvida pela USP, foram registradas 1.186 mortes causadas por intoxicação por agrotóxico de 2007 a 2014 no Brasil – estima-se que o número possa ser até 50 vezes maior devido aos casos não registrados.