Preocupados com a gestão e o uso da água na agricultura e no manejo da pecuária, produtores rurais, pesquisadores da área agronômica e representantes de órgãos governamentais e de empresas de irrigação se reuniram para discutir a gestão dos recursos hídricos na região. O assunto foi tema do “1º Workshop medição de água para a condução da atividade agrossilvipastoril irrigada”, realizado pela Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba) e a Associação Baiana de Produtores de Algodão (Abapa), na última segunda-feira (3), em Barreiras.
Pautado pela portaria do Inema, publicada no final do ano passado, onde o órgão determina a implantação de hidrômetros nas bombas de capitação de água para irrigação, o evento abordou questões técnicas sobre a instalação dos medidores e também discutiu políticas públicas que podem ser adotadas para melhorar a governança do recurso natural, conforme indicam as diretrizes do estudo ‘Potencial Hídrico da Região Oeste da Bahia’ – pesquisa realizada por cientistas de universidades públicas do Brasil e dos Estados Unidos, apoiados pelo governo do Estado e pelos produtores rurais baianos.
“O intuito desse estudo é combater o desconhecimento com ciência e transparência. Ao final da pesquisa, os dados serão evidenciados para que saibamos quanto de água temos e quanto podemos usar em cada área, para que sejamos eficientes na hora certa de abrir e fechar as ‘torneiras’. Justamente por isso, apoiamos não só a pesquisa, como também a instalação dos medidores. O que se discute agora é ampliação dos prazos para que todos possam se adequar”, observou o produtor rural, presidente da Abapa, Júlio Busato.
O presidente da Aiba, Celestino Zanella, ressaltou que os produtores radicados nos gerais estão cada dia mais profissionais, preocupados com o meio ambiente e com a eficiência nos gastos. “Os medidores de água são fundamentais para provarmos, para as pessoas que dizem que usamos uma quantidade absurda de recursos hídricos, que somos os maiores interessados em preservar o meio ambiente. O uso excessivo da água representa aumento dos custos de produção, por conta da energia usada no bombeamento. Isso provoca a redução do lucro. Por outro lado, a planta não deve receber água além do necessário, para não prejudicar a produtividade”, disse. Ele lembrou que, assim como o setor agrícola, outros segmentos da sociedade também precisam contribuir com a questão, fazendo o uso racional da água nas atividades domésticas, laborais e industriais.
A irrigação é sabidamente a atividade que mais demanda água na zona rural. No entanto, na região oeste da Bahia ela representa mesmo de 7% da área cultivada e mesmo assim é responsável por mais da metade da produção. Isso se deve à alta tecnologia aplicada aos sistemas de irrigação, capazes de produzir cada vez mais com menos pressão aos recursos hídricos. São os chamados sistemas inteligentes para produção sustentável.
De acordo com o professor Aziz Galvão, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), a demanda por alimentos cresce exponencialmente, em nível mundial. A FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) estima que cerca de 800 milhões de pessoas em todos os continentes vivam em situação de insegurança alimentar. Essa tendência justifica a busca por modos de produção que elevem a produtividade sem causar maiores impactos ambientais. “A população mundial está crescendo e o desmatamento, para formar novas áreas de cultivo ou pasto, não é recomendável. Então, a melhor alternativa para garantir que as pessoas tenham comida na mesa é a irrigação. Assim, aumentamos a produtividade e preservamos a natureza”, observou o pesquisador, que também faz parte do grupo responsável pelo estudo que quantifica e qualifica as águas superficiais e subterrâneas da região.
Antonio Alfredo Mendes, diretor da Naandanjain, multinacional especializada em tecnologias para irrigação, destacou, em sua apresentação, a disponibilidade de sistema de medição da captação e a vazão dos recursos hídricos pelos estabelecimentos rurais. “Hoje estamos aqui demonstrando as tecnologias para fazer todo o controle do uso da água, leitura de vazão instantânea, vazão acumulada e todo o manejo da irrigação. Devido ao interesse dos produtores, acreditamos em um grande avanço, nesta área, para os próximos anos”, afirmou.
Quem também ministrou palestra sobre tecnologia foi João Carlos Borges, proprietário da New Vision. “A gestão de água é uma prioridade em todo o Brasil. Atualmente o mercado disponibiliza dispositivos de comunicação sem fio, via sinais de rádio ou satélite, conectados a um data center, que oferecem todas as informações, em tempo real, aos produtores. Esse processo pode ser feito individualmente ou por associações e cooperativas”, explicou.
*Aiba