Reduzir a dependência brasileira por fertilizantes, de 80% para 50%, até 2050, é o desafio do Plano Nacional de Fertilizantes, que vem sendo trabalhado pela Câmara Técnica de Insumos Agropecuários (CTIA), a partir de 2008, e atualizado com maior afinco, desde 2022, com o início da Guerra na Ucrânia. Na última semana, o presidente da câmara, Arlindo Moura, ex-presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) e membro do Conselho Consultivo da entidade dos cotonicultores, apresentou, em reunião – que teve breve participação do ministro da Agricultura Pecuária e Abastecimento, Carlos Fávaro – o material, elaborado pelo Grupo de Trabalho designado para pensar estratégias para minimizar a subordinação dos agricultores nacionais ao fornecimento externo de insumos. Sem estes produtos, o Brasil não poderia se tornar um dos maiores players mundiais na produção de alimentos e algodão. A CTIA é uma câmara que envolve nove ministérios e é composta por representantes das cadeias produtivas, sobretudo do setor de insumos, como importadores e distribuidores.
De acordo com Arlindo Moura, as principais frentes de ataque do problema envolvem ciência e tecnologia, síntese industrial, aspectos tributários e atração de investimentos. A produção de fertilizantes no território nacional, segundo Moura, custa caro ou é inviável, pois as jazidas são profundas e, sobretudo na região da floresta amazônica. “Tirar o fertilizante aqui do Brasil sai mais caro do que importar, em função da localização e da logística. Mas há um consenso de que, precisamos, em alguma medida, produzir para ficar menos refém do importado”, considera.
Dentre as saídas propostas no documento, estão o aumento da oferta de produtos e processos tecnológicos, com sustentabilidade, a capacitação de profissionais na área de fertilizantes, com apoio do CNPq, a promoção a eficiência no uso do produto, assim como aumentar, em 100%, a fixação biológica do nitrogênio no solo, com práticas agronômicas. “Hoje a dependência do Brasil por insumos, como fertilizantes, defensivos e máquinas é grande, e difícil de ser resolvida. Por isso, falamos de 30%, em 2050. É preciso tempo e muito investimento para isso e, ainda assim, não conseguiremos ser autossuficientes”, afirma Moura. No algodão, considerando o Oeste da Bahia, que planta apenas em primeira safra, os fertilizantes representam cerca de 15% dos custos de produção. Este percentual já chegou a 20%, na safra 2012/2013.
Para a próxima safra, segundo o ex-presidente da Abrapa, os preços dos fertilizantes devem estar um pouco menores do que na safra em curso, 2022/2023, mesmo assim, acima dos preços históricos. A explicação para a redução, segundo ele, foi um ajuste do próprio mercado, além de esforços governamentais para a reposição de fornecedores, com o conflito no Leste Europeu. “É preciso enfatizar o trabalho da ex-ministra Tereza Cristina, que foi rápida e precisa, na busca por novas ofertas. A importação foi maior do que nos anos anteriores, e houve uma sobra. O Canadá foi um país que cresceu bastante no fornecimento. Em outros países, dos quais já comprávamos, o volume foi aumentado. A própria Rússia mandou um pouco mais de fertilizantes do que vinha atendendo, substituindo Belarus e Ucrânia”, conclui.
Imprensa Abrapa