Fundada em 2005 a Academia Barreirense de Letras tem, desde 2018, uma marca (também conhecida como logotipo ou brasão) que reúne um conjunto de símbolos, retratados a partir de pesquisas e da sensibilidade do designer e membro da ABL, José Tenório de Sousa.

Ocupante da cadeira 15, cujo patrono é seu pai Raimundo Nonato de Sousa, Tenório é membro da academia desde 2007 e há cinco anos criou a marca da instituição a pedido da então presidente da mesa diretora, professora e escritora Ananda Lima, que o deixou à vontade para a produção.

O autor relembrou que ao ser solicitado, aceitou o desafio e mergulhou nas pesquisas sobre os símbolos literários que iriam formar a marca que a cinco anos identifica a instituição. “A princípio, minha imaginação focou na figura dos ramos de oliveira, lado a lado. A ideia é interpretar duas mãos abertas acolhendo o conjunto dos símbolos gráficos (ramos de Oliveira, livros, letras, pena e sol) para retratação e formatação do ente a ser representado”, revelou.

Ele destacou que “para segundo plano, o destaque para uma obra literária (livro) onde a exalação de letras de suas páginas conjecture que a partir das quais é que se constituem as palavras, que por sua vez idealiza a escrita como a natureza da ABL de significar, representar ideias, diversidade de pensamento, conceitos e sentimentos manifestados por intelectuais, artistas e fomentadores culturais”.

O artista já criou perto de uma centena de marcas e brasões, é o autor do brasão oficial de Barreiras, escolhido em concurso, e de Riachão das Neves onde também assina a arte da bandeira. “A inspiração da marca da ABL propicia diversas interpretações, visto ser uma criação que por essência é permeada de subjetividades e de percepções sensíveis para sua compreensão”, argumentou.

Sem lembrar ao certo o tempo que gastou para a produção desta arte, ele pontuou que após o esboço inicial, compartilhado com Ananda, o trabalho foi divulgado no grupo de membros para avaliação. “Lembro-me de um questionamento do saudoso Durval Nunes e, logo após a revisão, a arte foi concluída”, asseverou.

De acordo com José Tenório de Sousa, dois pontos podem ser destacados na criação. “A primeira na figura dos ramos de oliveira. Me surpreendeu a significação e simbolismo da oliveira que, além de sua longevidade, resistência e poder de regeneração, é repleta de simbolismos religiosos, tanto na antiguidade e na modernidade”, ressaltou.

Outro ponto que ele considera importante no trabalho “é a exalação das letras pois traduzem a ideia de constituição das palavras, que estruturam a escrita ‘letras imortais do oeste baiano’ lema da ABL, referente a imortalidade de seus membros e membras através de seus escritos e feitos literários”, afirmou o autor, que começou a produção artística visual trabalhando com desenhos topográficos, mecânicos e arquitetônicos na sessão técnica do 4º Batalhão de Engenharia de Construção (4º BEC), no início da juventude.

Na sequência ingressou no mundo das artes gráficas, relembrou, afirmando que trabalhou em uma gráfica como arte finalista, “hoje profissão mais conhecida pelo nome de designer. Na época tive que me inteirar sobre diagramação de jornais, livros e impressos afins. Logo adiante colaborei em agências de publicidade, onde adquiri habilidade técnica pela criação, planejamento, produção e veiculação de campanhas publicitárias”, enfatizou.

Sobre a origem do talento, ele afirmou que desde criança “já tinha habilidade de desenhar imagens, fotografias, de perceber os movimentos do ambiente que me cercava e me afligia: é o que alguns especialistas em ciências humanas chamam ‘a percepção do artista’. Tal aptidão é muito pessoal, nasce com a pessoa e se manifesta de modo natural”, explicou.

Para ele, “a trajetória profissional e social me fez entender que a criatividade é a capacidade, inteligência e talento nato de inventar, de criar, de compor a partir da imaginação. Digo ainda, é a forma de expressar emoções, a história e a cultura através de valores inerentes ao (que deve) ser retratado”.

DESCRIÇÃO DOS SÍMBOLOS – Na sequencia o leitor pode acompanhar a explicação acerca de cada um dos elementos que compõem a marca identitária da Academia Barreirense de Letras, a partir do trabalho realizado pelo autor.

“A importância social da literatura abrange não apenas o entretenimento. Ajuda a entender a realidade, melhora nossa cognição e ensina a posicionar de forma crítica e reflexiva no ambiente sociocultural onde se vive. Em parte, a literatura não tem compromisso firmado com a realidade, e sim com a sua recriação”, afirmou.

Disse ainda que a percepção contextual de vivacidade e afluência literária do conjunto de ícones que estruturam o estandarte, chamado de brasão, logotipo ou marca “sintetiza a complexidade da arte da palavra, de criar e compor, não somente como instrumento de comunicação e de interação social, mas também como função poética da linguagem ao combinar palavras que regem a ideia de privilegiar ritmo, sonoridade, beleza, criatividade, entre outros. A harmonia entre os ícones alocados não foi casual. Suas conexões autenticam a retratação da ABL”.

O autor destacou que os significados e simbolismos presentes na marca da ABL são: “os ramos de oliveira, dispostos lado a lado que no imaginário remetem a mãos abertas acolhendo os demais símbolos gráficos, como o livro de suas páginas exalam letras que estruturam o mote ‘Letras imortais do oeste baiano’ “que traduzem a inspiração dos ABLianos e ABLianas convertida na imortalidade de seus escritos e feitos literários. É essencial legitimar com propriedade a definição de cada símbolo na formatação do brasão”.

Ele salientou que a oliveira “por ser uma árvore longeva que resiste a milhares de anos, possui uma habilidade de se regenerar quando cortada ou queimada, brotando a partir das raízes, o que a torna na melhor representação da perseverança, adjetivo que justifica a ABL manter em seus pilares basilares”.

O autor acrescentou ainda que a oliveira “é repleta de simbolismos bíblicos e na mitologia grega era considerada árvore sagrada, insígnia de sabedoria, de paz, de abundância e de glória”. Para ele, “tais narrativas justificam a ABL se eternizar como entidade ativista da paz e da sabedoria”.

Sobre as letras ele afirmou que “representam a escrita, essência da ABL. A partir das letras, se constituem as palavras, que, por sua vez, idealizam a escrita como forma de expressão gráfica simbólica e subjetiva de significar, representar ideias, diversidade de pensamento, conceitos e sentimentos manifestados por intelectuais, artistas e fomentadores culturais”.

Acerca da pena, José Tenório pontuou que “é um legado da antiguidade consagrado como símbolo de erudição e sabedoria, marca de distinção e poder entre poetas, romancistas e outros próceres da literatura. Os símbolos gráficos não existiriam sem um dispositivo que os tornassem visíveis e, por isso, não é casual que no aconchego da obra literária figura o primitivo instrumento de escrita. Hipoteticamente, deduz-se que a pena representa cada confreira ou confrade ABLiano e, respectivamente, suas valiosas contribuições para a literatura regional”.

O autor enfatizou ainda que a figura do sol ao fundo é o simbolismo da luz e do esplendor “que gravitam em torno da essência ABLiana. Mais dois atributos que a sociedade almeja da ABL como entidade proativa que incremente valores literários e culturais”.

Para concluir, ele pontuou que “a insígnia em questão, propicia diversas interpretações, visto ser uma criação que por essência é permeada de subjetividades e de percepções sensíveis para sua compreensão. Além do brasão de Barreiras, cidade sede da ABL, como ABLiano e barreirense de coração, sinto-me honrado por ter contribuído para a criação do brasão da Academia Barreirense de Letras, importante santuário da literatura, situado no extremo Oeste da Bahia”.

*ASCOM

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