O título acima pertence a um conto inicialmente publicado em 1837, por sua vez inspirado numa coleção medieval, de vários autores contendo 55 contos morais, datada de 1335 e denominada “El Conde Lucanor”.
Da leitura do conto do século XIX não nos chama a atenção as personagens principais, estas, figuras muito comuns até os dias de hoje, malandros, mandatários e seus eternos aduladores. Mas sim uma figura isolada e anônima, cuja participação na obra se dá por uma única frase, mas que foi capaz de resolver o maior mistério da história.
A sua atualidade é impressionante. Basta uma rápida navegação nas mídias sociais para percebermos o quanto ela está presente nas diversas publicações e nos comentários subsequentes.
Somos bombardeados diariamente por propagandas enganosas, notícias mentirosas, falsas opiniões e declarações que beiram o absurdo, proclamadas por aqueles que tem a missão de liderar os mais diversos segmentos da sociedade. Porém encantados pelo poder da mídia instantânea, dos belos efeitos especiais, pela sonoridade das postagens e por belas palavras, seguimos em turba rumo ao rio, como os roedores de “O Flautista de Hamelin”, ou, pior, como inocentes crianças rumo a um cativeiro eterno, não importa a idade que tenhamos, nem nosso grau de formação.
Nos falta, como população, discernimento, posicionamento crítico e principalmente voz para percebemos que nem tudo o que se propaga é real, é bom, ou, é verdade. Nos tempos de “fakenews” se tornou mais urgente a imediata propagação da “notícia” do que a verificação de sua veracidade. Destroem-se reputações, encerram-se amizades, sepultam-se verdades. E a troco de que? Falsas promessas, paixões desportivas, taras, esperanças políticas. Vale a pena?
Temos tantos problemas a enfrentar num Brasil aonde a inflação percebida por quem ganha até R$ 1.576,00 mensais é mais que o dobro daquela sentida por quem ganha acima dos R$ 15.000,00! A quem vamos vender o que produzimos, quem poderá contratar nossos serviços? Por que a indústria regride constantemente a níveis anteriores a década de 1980, a tal “década perdida”? Sendo um país imenso continental, rico em águas, combustíveis fósseis, imensurável capacidade de geração de energia renováveis e limpas, agropecuária moderna, por que não somos capazes de alfabetizar nossas crianças, tratar da saúde de todos garantir aos nossos idosos uma vida decente depois de décadas e décadas de trabalho?
Ao mesmo tempo assistimos encantados a passagem dos “Reis” e seus séquitos, acreditando serem salvadores da Pátria, mesmo que coloquem ao largo imensa parte da população.
Nos falta a atitude daquela personagem, isolada e anônima, citada no começo deste texto. Nos falta despirmos dos pré-conceitos, do egoísmo, do eterno “farinha pouca, meu pirão primeiro” e como crianças, na sua inocência, olharmos para a grande parada que passa diante de nossos olhos e gritarmos:
O Rei está nu!!!!!
E quem sabe assim, como no conto “As novas roupas do Rei” do dinamarquês Hans Christian Andersen possamos ver a verdade e perceber que desde muito, mas muito tempo mesmo, temos sido conduzidos por flautistas de Hamelin e resolvamos tomar as rédeas de nosso destino.
Em tempo: A coletânea “El Conde Lucanor” também é conhecida como: “Libro de los ejemplos”
Até a próxima!