Um dos meus escritores prediletos, o italiano Umberto Eco, falecido em 2016, era tido em seu país natal como “o homem que sabia de tudo”, dado o seu grande conhecimento, e principalmente a sua habilidade de discutir a comunicação, a cultura e a sociedade, aliadas às novas tecnologias. Em sua crítica a internet, o grande pensador italiano dizia: “A internet não seleciona a informação. Há de tudo por lá… A internet ainda é um mundo selvagem e perigoso. Tudo surge lá sem hierarquia. A imensa quantidade de coisas que circula é pior que a falta de informação. O excesso de informação provoca a amnésia. Informação demais faz mal. Quando não lembramos o que aprendemos, ficamos parecidos com animais. Conhecer é cortar, é selecionar”. E mais, com propriedade, o intelectual, afirmou: “As mídias sociais deram o direito à fala a legiões de imbecis que, anteriormente, falavam só no bar, depois de uma taça de vinho, sem causar dano à coletividade. Diziam imediatamente a eles para calar a boca, enquanto agora eles têm o mesmo direito à fala que um ganhador do Prêmio Nobel. O drama da internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade”. Faço esta introdução, com o meu escritor predileto, para na verdade adentrar, no tema atualíssimo, o Jogo da Baleia Azul. A principio parece uma imbecilidade surgida na internet, e que tem aterrorizado pais e educadores, que acreditam ser o jogo, um incentivador ao suicídio. A coluna Jornal Ciência, de 18 de abril de 2017, traz matéria sobre o Jogo da Baleia Azul, elencando os 50 (cinquenta) desafios do jogo, sendo que o último é o desafio ao suicídio. Quem está por trás do jogo, quem são os chamados curadores e as técnicas utilizadas para manipular os jovens praticantes do jogo, devem ser investigados pelas polícias no mundo inteiro, até para saber com a finalidade deste jogo do mal. Independente disto, o que nos preocupa e seria estudo do mestre Umberto Eco, é o que a internet se tornou e o seu alcance sem limites na vida humana. Ontem, vi um colega agoniado, pois seus filhos estavam sem internet, lhe pressionando, e ele me disse: “ Meus filhos deixam de comer, mas não podem ficar sem internet.” Preocupante, muito preocupante que tenhamos sido escravizados pela mídia moderna a ponto de nos levar a loucura, pelo deseja incessante de comunicação e busca desenfreada pela informação. Como bem disse Umberto Eco, informação demais faz mal, principalmente se não tivermos capacidade de filtrarmos estas informações, do que é necessário, útil a nossas vidas e o que é lixo de consumo barato. Diariamente tenho recebido dezenas de vídeos e fotos inúteis, mandadas por amigos, clientes e até familiares, que não percebem a banalidade do ato. A internet é causadora do fim do nosso sossego, e agente pernicioso da influência de mal intencionados na vida dos nossos jovens. Aliás, as vitimas principais da internet são os jovens, instáveis emocionalmente, sedentos por informação e desejosos de independência. O jogo da Baleia Azul mostra o qual é frágil o controle sobre a internet, e o mal que ela pode causar em nossos jovens e na nossa sociedade. (Este artigo continuará…na semana que vem).