Quando todos passaram a achar que, devido ao extremo crescimento dos evangélicos, viria a total derrocada da Igreja Católica, o que se vê é o crescimento de vários nichos. A Igreja, como um todo, conta hoje com mais de 1,34 bilhão de fiéis em todo o mundo, um número que cresceu em todos os continentes, com exceção da Europa, segundo as estatísticas publicadas outro dia pelo Vaticano.
No Brasil, pesquisas do IBGE mostravam que o país está se tornando cada vez menos católico, embora essa ainda seja a religião majoritária. A queda da população católica foi recorde entre 2000 e 2010. A proporção caiu 12,2%, passando de 73,6% dos brasileiros para 64,6%. Em 1991, os católicos representavam 83% da população. Em vinte anos, a população católica diminuiu 22%, ou seja, em proporção, a Igreja Católica perdeu mais de um quinto de seus fiéis. Hoje é preciso atualizar os dados, mas as autoridades católicas dizem haver um novo crescimento. Naqueles anos, a Igreja Católica perdeu quase 1,7 milhão de fiéis no país, saindo de 124,9 milhões para 123,2 milhões.
A projeção era que, se o ritmo de queda fosse mantido, em vinte anos os católicos seriam menos da metade da população brasileira. Mas trago esse assunto à tona por ter ficado pasmo com o que vi na primeira sexta-feira de 2024 no bairro do Bonfim. É certo que todo baiano de fé – uma tradição que foi tirada do sincretismo com o candomblé – usa roupa branca às sextas-feiras, o que já não se via muito. Mas se viu, e muito, na primeira sexta do ano, o Bonfim tomado de pessoas trajando roupa branca, subindo e descendo a ladeira da Igreja do Bonfim, e as missas lotadas de gente.
O que se vê é que o Senhor do Bonfim, padroeiro da Bahia, volta a ficar em alta fora do período da Lavagem, visto que na última sexta-feira do ano de 2023 o alto do Bonfim também estava muito frequentado. Baianos e pessoas de fora. Sem querer tomar seu tempo, nunca que Theodózio Rodrigues de Faria, capitão-de-mar-e-guerra da marinha portuguesa, fervoroso devoto do Senhor do Bonfim, que escapou de uma tempestade e decidiu trazer uma imagem de Setúbal, em Portugal, a título de agradecimento e construir uma igreja longe de tudo num ermo em Itapagipe, isso em 1745, vislumbraria o que hoje se vê.
Ele também jamais acreditaria se dissessem – e deve estar se virando e revirando no túmulo – ao ver que hoje sua igreja é palco de vaidades, interesses próprios e políticos, que até os membros da Devoção andam às turras, brigando por uma nesga de poder. O Senhor do Bonfim, por enquanto, está quieto. E pelo jeito, muito mais vivo para os baianos que acreditam na imagem.
*Jolivaldo Freitas
Jornalista e escritor. Autor do romance “A Peleja dos Zuavos Baianos Contra Dom Pedro, os Gaúchos e o Satanás”