Faz tempo que mal tracei as últimas linhas nesta coluna. Tratava do conto constante do “Libro de los ejemplos”; O Rei está Nu!
Por mais tentado que esteja, não tocarei em nenhum assunto ocorrido neste tempo. Deixo aos meus poucos leitores a necessária reflexão.
Hoje acordei com a necessidade de trabalhar, fim de mês, correria, rotina, sinônimos. Porém, aqui estou fazendo uma das coisas que mais gosto, escrevendo e refletindo. Aliás, refletir sobre a vida e suas nuances é o que sempre faço nos meus momentos a sós, nas viagens, nas madrugadas, ou no adormecer. Desde abril deste ano, quando quis a vida que eu perdesse de vista meu irmão caçula e o luto se instalasse, venho pensando como encaramos momento tão difícil.
Não sei se por estar mais maduro, talvez mais calejado por tantas vezes ter vivido esta experiência e desde muito cedo, procurei entender o momento de forma diferente, espiando um pouco fora do que minha pouca fé me permite.
Lembrei-me de uma família japonesa que eram nossos vizinhos em Maringá. No terreno, existiam três casas habitadas por três gerações. Por anos, diariamente, vi o avô levar sua esposa, bastante idosa, para caminhar ao redor do quarteirão, lentamente, passos curtos, de mão dadas, antes de seguir para o seu trabalho. Anos depois acompanhei o filho fazer o mesmo, sem me lembrar se era seu pai, ou, sua mãe o acompanhado. Hoje imagino que tamanha dedicação cabe a um dos netos. Entendo que este tempo de demoradas caminhadas, respeito e amor, ajudam em muito no momento da despedida.
Cito também a belíssima animação “A Vida é uma festa” que trata da celebração do dia “de la muertos” no México, culto à Santa Morte, sincretismo religioso entre o catolicismo e a religião ancestral, como me ensinou hoje um grande amigo. O longa-metragem, além de tratar com raro respeito as manifestações latino-americanas, mostra outra maneira de encarar a separação definitiva no plano em que vivemos.
A forma de encarar a morte é bastante diversa ao redor do mundo e ao longo da história, são traços multiculturais dando vários entendimentos a um fato só. Todos precisam ser respeitados, nos seus ritos, nas suas cores, nas suas dores. Afinal, quem passa pelo momento é quem sente a dor e tem o direito de se expressar como lhe permite a consciência e o coração.
Talvez, mesmo no dia de hoje, o mais importante seja celebrar a vida que nos é permitida, sem perder de vista que vida plena não se conquista sozinho. Depende de como a vivemos e o quanto permitimos que os outros vivam as deles, seja de forma ativa, por meio de nossas ações, nossas palavras, nossos negócios e trabalho, ou seja de forma passiva, através de nossos desejos, pensamentos.
Portanto um mundo mais justo, plural, multicultural é imprescindível para o desenvolvimento da humanidade, principalmente por crer que o Criador é onipresente, atemporal e onisciente, ou seja, está em todo lugar, em todas as pessoas, a qualquer momento e conhecendo tudo, desde a folha que cai silenciosamente ao pensamento que tenho agora. Não temos o direito de julgar, seja por qual motivação for.
Neste dia de nossos mortos, ou, finados, desejo que todos os que perderam alguém estejam reconfortados e homenageio os 160.104 mortos pela Covid-19 no Brasil e pelos mais de um milhão e duzentas mil pessoas ao redor do mundo.
“ut pacis erit vobiscum”
Até a próxima!