O adolescente Marcos Vinícius de Paula Santos, 14 anos, foi encontrado na noite de quinta-feira (20) morto, dentro de casa, com um frasco de desodorante numa das mãos. A Polícia Civil de Eunápolis, no extremo sul da Bahia, investiga se a morte dele tem relação com o “desafio do desodorante”, brincadeira difundida entre crianças e adolescentes na internet, que consiste em inalar o aerossol, fechar boca e nariz e ficar o máximo de tempo sem respirar.
O adolescente foi encontrado morto no quarto da casa onde morava com os tios. “Os relatos dos parentes indicam que a causa da morte foi a participação dele nesse desafio, que é muito perigoso”, informou o delegado Marivaldo Felipe dos Santos. Ainda segundo ele, outros amigos do jovem morto iriam participar da brincadeira, mas desistiram. Outros casos de morte relacionados à brincadeira já foram registrados no Brasil.
A princípio, segundo a polícia, o caso é encarado como suicídio, mas se for constatado que houve incentivo por parte de alguém, essa pessoa pode responder por homicídio culposo. O CORREIO não conseguiu contato com familiares do jovem.
O que é o ‘desafio’?
Um vídeo que circulou nas redes sociais traz a proposta do “desafio”. Os espectadores são incentivados a inalar gás de desodorante aerossol pelo maior tempo que conseguirem.
Em uma gravação publicada em 3 de abril de 2016, um jovem youtuber aparece explicando o desafio: borrifar desodorante em um saco plástico e tentar inalar a maior quantidade possível “como se fosse lança” – a referência é ao lança-perfume. Depois, ele aparenta estar atordoado, mas repete o gesto. “O que eu estou fazendo da minha vida?”, questiona ainda.
A maioria dos desodorantes é fabricada com substâncias químicas antissépticas, que reduzem odores, incluindo o ácidro clorídrico, por isso há riscos. “Qualquer inalante com compostos químicos pode deflagar reações, levando a quadros graves como parada cardíaca e até óbito”, explicou em entrevista à Veja Fernando Ganen, pediatra e superintende do Pronto Atendimento Infantil do Hospital Sírio Libanês, de São Paulo.
A substância, inalada, é enviada ao pulmão, um órgão que é extremamente vascularizado. Cai rapidamente na corrente sanguínea e chega ao coração, provocando arritmia cardíaca. O coração deixa de bombear corretamente sangue para o corpo e acaba perdendo totalmente a função em pouco tempo. Além disso, a pessoa pode sofrer uma reação alérgica. As substâncias químicas em grande quantidade podem provocar a reação, como edema de glote – a garganta “fecha”, comprometendo a entrada de ar e causando asfiixa.
Em fevereiro deste ano, a pequena Adrielly Gonçalves, 7 anos, morreu após inalar desodorante em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. Ela aspirou o produto após ver vídeos na internet propondo “desafio”. Parentes da menina e amigos da família fizeram campanha nas redes sociais para alertar os pais sobre esses vídeos. “Galera, o vídeo era sobre um desafio de inalar desodorante aerossol, o objetivo era inalar e ver a quantidade de tempo que você aguenta, ela criança inocente colocou o desodorante direto na boca e desmaiou tendo parada cardíaca em sequência”, escreveu no Facebook Sheila Cristina, amiga da família.
Em nota, a Secretaria de Saúde do município informou que Adrielly chegou à Unidade de Pronto Atendimento com parada cardiorrespiratória e em estado grave. As tentativas de reanimação não deram certo.
Outra variação do “desafio” propõe que as pessoas usem o desodorante em spray bem perto da pele, para “gelar”, o que na prática causa queimaduras e ferimentos variados.
Fonte//Correio da Bahia