Todos os dias somos bombardeados por uma infinidade de matérias jornalísticas. Hoje os smartphones colocam o mundo na palma de nossas mãos. O acesso à informação nunca foi tão grande, sobretudo para o brasileiro que é o segundo povo do planeta a passar mais tempo na internet. Ficamos, em média, 145 dias por ano conectados. Portanto, temos que ter muito cuidado com as notícias, exercendo sempre um olhar crítico sobre o que é veiculado na rede mundial de computadores.
Dentre as inúmeras matérias publicadas, uma realizada com o presidente do banco Santander no Brasil, Sérgio Rial, chamou minha atenção e também me deixou bastante preocupado. Segundo o executivo, “essa crise lida com duas mortes: a física e a metafórica, que é a morte das pequenas empresas”. Podemos mensurar o impacto negativo dessa informação quando observamos um dado divulgado recentemente sobre a criação de postos de trabalho no Brasil. Segundo o SEBRAE, os pequenos negócios são os que mais geram empregos com carteira assinada, respondendo por 54% dos empregos formais do país.
Imaginem o quão catastrófico podem ser os impactos oriundos da pandemia sobre a economia de nosso país. Quantas famílias perderão seu meio de sustento. E estes postos de trabalho que serão ceifados pela crise, será que vão ser restituídos quando a situação retornar à normalidade? Uma incógnita, porque a “normalidade” pós crise pode ser bem diferente daquilo que era antes da crise.
Segundo a Organização das Nações Unidas, um dos efeitos mais danosos provocados pelo novo coronavírus sobre a economia é o fato das pessoas terem que desfazer de seus meios de produção para suprir suas necessidades básicas. Trazendo essa situação para nossa realidade, seria como se o pequeno produtor de leite fosse obrigado a vender suas poucas cabeças de gado para sobreviver, em virtude da queda repentina no consumo de leite. Sem ter como se manter, essas pessoas passam a depender das redes de proteção social de seus países por vários anos, até reconquistarem novamente a independência, aumentando ainda mais a pressão sobre o orçamento doméstico, principalmente, dos países mais pobres.
Plenamente ciente dos prejuízos que tal situação pode causar para a economia, os líderes mundiais já começaram a se movimentar. O Fundo Monetário Internacional, com sede e New York, que possui 188 países membros, aprovou ajuda financeira para boa parte de seus associados. A União Europeia anunciou a injeção de 100 bilhões de euros para proteger a economia da pandemia. Os EUA vão destinar 2 trilhões de dólares para ajudar trabalhadores, empresas e o sistema de saúde, valor superior ao PIB do Brasil em 2019.
A questão é que esse estímulo financeiro, remédio ministrado em crises pretéritas, agora não está produzindo o efeito desejado. A fábula de dinheiro destinada a gerar crédito, aumentar o consumo e movimentar a economia pouco tem adiantado. Essa nova crise possui um fator adicional e determinante, o isolamento social. Receosas com a própria saúde, mesmo com a abertura gradual do comércio em algumas cidades, as pessoas não vão às ruas, não viajam, os eventos sociais foram suspensos, os bares e restaurantes estão vazios, decisões de aquisição de imóveis e veículos foram adiadas, pois o futuro é incerto. Com exceção dos ramos de alimentos e medicamentos, a economia está paralisada.
O mundo está em uma encruzilhada. Ambos os cenários desenhados são antagônicos e abomináveis. Se o distanciamento social for mantido por muito tempo o planeta sofre um blackout e o número das mortes metafóricas tende a crescer exponencialmente. Se for flexibilizado, o sistema de saúde corre o risco de entrar em colapso e as mortes físicas se multiplicarem. Enquanto isso, existe um esforço científico mundial concentrado na descoberta de algum medicamento capaz de debelar a pandemia. Atualmente, há 76 vacinas contra o covid-19 sendo desenvolvidas no planeta.
Enfim, situações extraordinárias exigem líderes e decisões extraordinários. Cada gestor público precisa descobrir o time perfeito entre o isolamento e a abertura do comércio a fim de reduzir ao máximo os prejuízos provocados pelos dois cenários, até que a cavalaria, hoje composta pelos cientistas mais renomados do planeta, chegue com reforço. Precisamos ganhar tempo. Quanto tempo? Lembrando que o PIB do Brasil, segundo as previsões, pode encolher 5% em 2020. A maior retração da história da economia Brasileira. Retornamos ao mesmo patamar econômico que estávamos no ano de 2010.
Encontrei um texto, cujo autor, infelizmente não recordo o nome, que faz uma analogia bem interessante com a situação vivida por Prefeitos, Governadores e Presidentes durante essa crise. Seria como se eles estivessem dirigindo um automóvel em uma noite chuvosa, com pouca visibilidade e com todos os passageiros gritando desesperados no banco de trás. O motorista não pode se desconcentrar e não pode parar até encontrar um local seguro. Que Deus dê aos nossos guias discernimento, bom senso e sabedoria para nos conduzir com segurança durante essa turbulência, reduzindo ao mínimo as mortes físicas e as metafóricas.
*Fabrício Melo dos Santos
Servidor da Justiça Federal em Barreiras
Formado em Direito e com pós graduação em Direito Processual Civil