O clima está desanuviado em Barreiras, um dos tradicionais municípios agrícolas do oeste da Bahia, o principal Estado produtor de soja do Nordeste. Mas não no sentido da falta de nuvens, ao contrário. Com a safra encaminhada, agricultores estão mais tranquilos diante da boa frequência das chuvas, enquanto as colheitadeiras começam a rodar pelos campos da Bahia, um Estado menor na produção em relação a outros do centro-sul, mas com elevado potencial de crescimento, que poderia perder ímpeto no caso de uma nova frustração climática.

O tempo tem sido bastante favorável na região, a exemplo do que acontece em outras parte do Brasil com colheita já mais avançada, o que deverá colaborar para elevar a produção nacional para um recorde de mais de 110 milhões de toneladas, de acordo com especialistas da expedição técnica Rally da Safra, organizada pela Agroconsult. Depois de vários anos de colheitas abaixo de suas melhores médias por hectare, a região de áreas extensas e grande escala de alta tecnologia agrícola -integrante do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia)- caminha para ter sua melhor temporada da história, trazendo novo ânimo para muitos agricultores assolados pela seca.

As condições climáticas em geral favoráveis com o registro de curtos períodos de seca no início do ciclo– estão mais do que compensando uma redução de investimentos em fertilizantes e outros insumos, na esteira de grandes perdas em anos anteriores e da crise econômica. “O produtor está usando a poupança do solo”, disse à Reuters João Carlos Jacobsen, um dos agricultores pioneiros de Barreiras.

Ele se referiu à redução de gastos com adubos, adotada por muitos na safra 2016/17. “E mesmo assim este ano houve aumento de produtividade. Estamos com a expectativa de colher a melhor safra de soja do oeste da Bahia”, acrescentou ele, lembrando que o clima benéfico também propiciou uma redução de aplicação de defensivos.

A boa safra está sendo possível com uma área que praticamente foi a mesma, apesar das dificuldades financeiras, e com um plantio sendo realizado em algumas terras que antes eram destinadas ao algodão, já a soja exige menos investimentos de implantação. Como o solo do algodoeiro geralmente tem uma maior reserva de nutrientes, a produtividade do grão também foi beneficiada por esse fator, segundo especialistas do Rally da Safra.

Amostras de produtividade feitas a campo no domingo pelas equipes da expedição a ser acompanhada pela Reuters no Matopiba esta semana comprovam a afirmação do agricultor sobre a colheita. As quatro equipes do Rally que rodaram regiões como a Coaceral, perto de Formosa do Rio Preto, o Anel da Soja, nas cercanias de Luís Eduardo Magalhães, verificaram muitas lavouras com mais de 4 mil quilos por hectare, cerca do dobro da média verificada no ano passado, uma situação que promete se repetir em outras regiões do Matopiba.

“Tocantins também está bom, provavelmente vai ser um dos melhores anos do Estado”, disse o consultor Thiago Turozi, da Impar, antecipando o que o Rally deverá comprovar nos próximos dias. O engenheiro agrônomo, que chegou a Tocantins em 2013, disse que nunca viu safra boa como a atual, após seguidas secas nos anos anteriores.

SAFRA MAIOR

Durante uma visita a uma lavoura em Barreiras, o analista da Agroconsult Rodrigo Cruz revelou à Reuters que a importante consultoria já trabalha com um número de safra do Brasil de cerca de 111 milhões de toneladas. Isso representa um crescimento de mais de 15 milhões de toneladas na comparação com a produção da safra passada. Representa também um aumento importante na comparação com o último número divulgado pela consultoria, de 107,8 milhões de toneladas em meados do mês passado.

“Não fica abaixo disso, nem se cortar a chuva. Agora é ver como está a partir de agora, porque as lavouras estão muito boas…”, disse o analista, acrescentando que apenas o Matopiba poderia elevar a estimativa de produção do país em cerca 1,5 milhão de toneladas, ante o número atual. O Rio Grande do Sul que, juntamente com a região do Matopiba, tem colheita mais tardia, poderia adicionar outras 1,5 milhão de toneladas à projeção da consultoria, se o clima continuar favorável, disse ele.

Por ReutersRoberto Samora

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