Para contribuir com o enfrentamento da crise hídrica no Distrito Federal, no âmbito do setor agrícola, a Embrapa irá oferecer um treinamento a 25 técnicos da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-DF) e Secretaria de Agricultura e Desenvolvimento Rural (Seagri-DF). A capacitação, programada para os dias 30 e 31 de janeiro, possibilitará aos extensionistas da Emater e técnicos da Seagri disseminar o conhecimento por meio de 45 minicursos que estão sendo planejados para atender produtores rurais do Distrito Federal e entorno.

 “Neste primeiro momento, estamos programando um curso emergencial e mais compacto para disseminar as informações sobre manejo de irrigação mais rapidamente”, destaca Fernando Amaral, chefe do Departamento de Transferência de Tecnologia da Embrapa (DTT). A capacitação irá cobrir tópicos de interesse dos produtores rurais, tais como estratégias de manejo de irrigação; requerimento de água pelas culturas; avaliação de desempenho de sistemas de irrigação; fatores que determinam o manejo de irrigação; softwares e aplicativos de manejo de irrigação.

Para delinear a ementa da capacitação, colaboradores do departamento de Transferência de Tecnologia da Embrapa, além de assessores das Diretorias de Pesquisa e Desenvolvimento e de Transferência de Tecnologia da Empresa; pesquisadores da Embrapa Hortaliças, Embrapa Cerrados e Embrapa Agroenergia estiveram reunidos na quinta (19) na Diretoria de Transferência de Tecnologia da Embrapa.

Além da capacitação, os pesquisadores também irão validar o conteúdo de cartilhas sobre manejo da irrigação. A intenção é unir esforços com a Emater e Seagri para contribuir com a racionalização do uso da água no Distrito Federal e entorno. Essa iniciativa faz parte do plano elaborado pelo Governo de Brasília com medidas na área rural para a Bacia Hidrográfica do Alto Rio Descoberto.

Fio da navalha- pela primeira vez na história, o Distrito Federal enfrenta um racionamento de água, especialmente por conta da sequência de pelo menos três anos de chuvas abaixo do normal. “Estávamos andando no fio da navalha. Nesse período ruim de chuva, tivemos uma redução muito grande na vazão dos rios. E não foi apenas a quantidade que mudou, mas a forma de precipitação também. Isso tudo interfere no ciclo hidrológico e tem um impacto muito significativo no regime de vazão”, explica Jorge Werneck, pesquisador da Embrapa Cerrados.

De acordo com o especialista, essas mudanças de quantidade e forma de precipitação registradas nos últimos anos no DF não favoreceram o abastecimento dos lençóis freáticos, fator preocupante na medida em que 90% da vazão dos rios da região é proveniente das águas do solo e somente 10% é de água que escorre da superfície. “Isso explica porque, muitas vezes, mesmo apesar de algumas chuvas, o reservatório não enche. Trata-se de um processo um pouco mais complexo e lento. A água precisa atravessar todo o perfil do solo, chegar lá embaixo, elevar o nível do lençol freático. Só depois disso é que começa a influenciar a vazão de base, que mantém o rio”, explicou.

Em situações anteriores a esse período considerado crítico, no mês de janeiro o Lago Descoberto estaria vertendo água, ou seja, a água excedente estaria saindo pelo vertedouro. Mas a situação atual, como se sabe, é totalmente contrária. “Nunca tivemos níveis tão baixos nesse reservatório. O mínimo que havíamos registrado era de 40%. Este ano chegamos nos 20% e está difícil sair dele. O lençol freático está mais baixo do que o normal e precisamos de mais água. Ano passado foi o ano que tivemos menos tempo do Descoberto vertendo, foram apenas duas semanas; geralmente são dois meses”.

Segundo o pesquisador, a área da bacia do Descoberto é de cerca de 400 quilômetros quadrados. Para a chuva causar algum impacto e essa água chegar ao Lago Descoberto, tem que chover na região que vai de Brazlândia até Águas Lindas (GO). “Se nos últimos meses tivesse chovido pelo menos a média, conseguiríamos armazenar água suficiente para passar o próximo período de seca, só que choveu abaixo da média e de uma forma muito mal distribuída”.

De acordo com estudos já realizados relativos a capacidade de suporte das bacias versus a demanda de água que elas suportariam, já se verificou que muitas delas estão numa situação limite. “Algumas regiões simplesmente não suportam mais o aumento do consumo de água”, alertou o especialista da Embrapa. A boa notícia, segundo o pesquisador, é que essa situação na área urbana pode melhorar nos próximos anos com a entrada no sistema da barragem de Corumbá IV, que está sendo construída próxima a Luziânia e que deve abastecer cerca de 20% do DF.

Fonte: Cerrados Imprensa

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