Saudações!
Nestes quase vinte e oito anos na Bahia, uma das oportunidades que a profissão nos concedeu foi conhecer o Brasil que ainda existe nos rincões mais isolados. Recentemente tivemos, um amigo e eu, a satisfação de conhecer Cafundós, região rural de um dos municípios do oeste baiano, aonde visitamos dez famílias. Ali a presença física do estado se resume a eletrificação rural, cisternas de captação de águas das chuvas e moradias rurais que ainda não atendem a todos. As terras carecem de regularização fundiária e são desmembradas de áreas maiores, pertencentes a antepassados há várias gerações, num processo de herança informal.
Em comum, gente simples, trabalhadora, nascida nas terras em que convivem e sobrevivem do pouco que cultivam. Quase ninguém teve algum dia de carteira de trabalho assinada e a maioria se compõem de analfabetos funcionais, que apesar de todas as dificuldades e carências, nos transmite confiança num futuro promissor.
Antes de continuarmos, tentem identificar o que é a estrutura de madeira que aparece na fotografia que abre este texto. Se não consegue, saiba que também não conseguimos e tivemos que perguntar a senhora que opera esta máquina.
Sim! É uma máquina! Especificamente um tear, cujas várias peças ficam guardadas e somente são montadas na ocasião do trabalho. Nesta estrutura rústica são fabricados tecidos de algodão, cuja matéria prima é colhida de algodoeiros arbóreos, transformados em fios e depois tecidos. O nosso guia local trajava uma bermuda branca, com detalhes xadrez em verde e marrom, cosida com este tipo de tecido.
Nos sentimos levados ao passado, talvez século XIX. Pena que não encontramos o “D’Lorean” que pudesse nos levar ao futuro. E por que conhecer o futuro? Neste caso específico, para verificar o que poderá acontecer a esta comunidade nos próximos vinte ou trinta anos. Explicamos:
Boa parte da sobrevivência local se dá por meio das aposentadorias rurais, de gente que labutou a vida toda de sol a sol, numa árdua faina de produzir alimentos para si e para comercializar nas feiras das pequenas cidades, e cujas algumas estatísticas nos dão conta que atingem a produção de mais de 70 % dos alimentos que consumimos no país.
É a esta gente, quem aparenta ter mais de sessenta anos quando se tem pouco mais de quarenta, que o projeto original da reforma da previdência atinge com mais letalidade. Do que viverão os que agora trabalham na roça? Entendemos que a modernização da legislação trabalhista e da gestão previdenciária são temas urgentes para o estado brasileiro. Mas não vemos motivo justo para imputar esta conta a este Brasil rural, ou, ao Brasil assalariado, enquanto grandes conglomerados empresariais, empresas estatais e tantas outras organizações biliardárias não recolhem os seus impostos.
Portanto, entre Temer e os teares, ficamos com os segundos, pois ao menos sei que quem os usam para tecer seus panos simples, o fazem com muito esforço e dedicação sincera.
Até a próxima!