Especialistas da área de recursos hídricos da Embrapa e de diversas universidades e instituições governamentais do País, estiveram reunidos durante toda esta semana, na Embrapa Sede (Brasília-DF), participando do IV Seminário da Rede AgroHidro. O evento contou com 17 palestras e 32 apresentações orais e de pôsteres de artigos com resultados do projeto AgroHidro.
A Rede AgroHidro, criada há sete anos, foi proposta inicialmente por um grupo de pesquisadores da Embrapa, em virtude dos desafios associados às crises de suprimento de alimentos e de água no mundo. Conta com parcerias estratégicas de diversas universidades e instituições governamentais, e com a participação de vinte Unidades da Embrapa e de mais de 36 instituições parceiras externas.
O tema do seminário foi “Água e Agricultura: incertezas e desafios para a sustentabilidade frente às mudanças do clima e do uso da terra“. O evento teve o objetivo de apresentar os resultados finais da atuação da Rede e gerar conhecimentos e estratégias técnicas para o uso eficiente do solo e da água com vistas à conservação dos recursos hídricos, à sustentabilidade e à competitividade. “O seminário ocorreu em um momento importante, em que o país, em várias de suas regiões, enfrenta um sério problema de restrição hídrica”, afirmou o pesquisador da Embrapa Lineu Rodrigues, coordenador da Rede.
Abertura – a abertura do Seminário foi realizada na noite da segunda-feira (17), no auditório da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), e contou com a presença de instituições parceiras do projeto e de representantes de entidades parceiras em potencial, além de demais convidados. Participaram da mesa de abertura o chefe-geral da Embrapa Cerrados, Claudio Karia, o gerente-geral de Articulação e Comunicação da Agência Nacional de Águas (ANA), Antônio Félix Domingues, o superintendente técnico da CNA, Bruno Barcelos Luque, além do pesquisador Lineu Rodrigues.
O pesquisador repassou informações sobre a Rede, seus objetivos e como ela foi concebida. “O nosso foco sempre foi água na agricultura. E nosso norte desde o início foi sustentabilidade e manejo integrado de bacias hidrográficas”, contou. Há sete anos, segundo ele, o projeto que materializou a Rede começou a ser delineado. “Agora estamos aqui discutindo esse projeto que está sendo finalizado. Esse é o momento de rediscutir parcerias estratégicas para continuarmos nosso trabalho”, enfatizou.
Para o chefe-geral da Embrapa Cerrados, Claudio Karia, este momento de crise hídrica é uma oportunidade imensa para expor para sociedade as soluções que os cientistas estão buscando por meio das pesquisas. “Acredito que neste final de projeto o foco da equipe deveria ser a disponibilização de tecnologias que possam mitigar esses efeitos da seca em todos os níveis”, pontuou. Ele ressaltou, no entanto, que não há dúvida que se trata de um trabalho complexo. “Precisamos de uma grande articulação institucional para organizar esse conhecimento, transformá-lo em tecnologia e fazer com que o alvo que são os gestores de recursos hídricos desse país seja atingido”.
“Experimentamos uma crise hídrica sem precedentes tanto no sudeste brasileiro, como no nordeste, onde já estamos no sexto ano de seca duradoura e profunda. Isso nos mostrou que, apesar de termos um sistema de gerenciamento de água no Brasil, que é razoavelmente moderno, nós estamos longe de ter um sistema seguro na questão da gestão de águas”, afirmou o gerente-geral da ANA, Antônio Félix Domingues. De acordo com ele, esse panorama se torna ainda mais preocupante, pois é crescente a demanda de produção de alimentos nas próximas décadas e nenhum outro país tem mais condições de atender como o Brasil. “A grande expectativa nossa é dar essas respostas dentro do espírito desse encontro que é a sustentabilidade”, afirmou.
De acordo com o superintendente da CNA, Bruno Luque, o clima é um dos principais desafios deste ano apontados pelos produtores rurais. “Acreditamos que quanto mais bem preparado tecnologicamente o produtor estiver, melhor ele poderá passar por essas transformações ocasionadas pelas variações climáticas que vamos ter no sistema produtivo. A Embrapa sempre que foi demandada respondeu. Tenho certeza que agora não será diferente”.
Palestra magna – a palestra de abertura do evento foi do professor da Universidade Federal de Viçosa, Marcos Heil Costa. O especialista da área de climatologia tratou do crescente risco climático pelo qual a agricultura está passando, com foco na fronteira agrícola do sul da Amazônia e do norte do Cerrado. Segundo ele, a possibilidade de existir duas safras num mesmo ano pode estar em risco nessas regiões já que a cada ano a duração da estação chuvosa é reduzida.
Para o especialista, o desafio daqui pra frente é reconciliar a produção com a proteção e mitigar os riscos da cadeia produtiva. “Acho que esse é o caminho da agricultura intensiva na região. Já foi a época que estudávamos só o clima e só a agricultura. Também teve um tempo que estudamos a interação entre o clima, a vegetação e a agricultura. Agora temos que envolver é toda a cadeia de produção”, defendeu.
Na segunda (17) e nesta sexta-feira (22) está sendo realizado o II Workshop da Rede AgroHidro, restrito a membros do projeto e convidados. O objetivo principal da rede é contribuir para a interação entre profissionais e instituições nacionais e estrangeiras na busca de soluções voltadas à sustentabilidade nas relações entre os recursos hídricos e as cadeias produtivas agropecuárias e florestais e à melhoria da qualidade de vida dos produtores rurais e da população em geral, promovendo o avanço do conhecimento e das tecnologias para o uso eficiente da água.
Juliana Caldas (MTb 4861/DF)