A jovem de 19 anos que denunciou à polícia do Rio Grande do Sul ter sido agredida e marcada no corpo com uma suástica, em 8 de outubro, vai ser indiciada por falsa comunicação de crime. Um laudo da Polícia Civil concluiu que a mulher não reagiu aos cortes e sugeriu que ela tivesse se mutilado ou consentido com o ato.
Segundo o delegado Paulo César Jardim, responsável pelo caso, a acusação contra ela se baseia na perícia, em depoimentos de lojistas e moradores, e na análise de imagens de doze câmeras de segurança que registraram a movimentação na data e hora da suposta agressão.
Na delegacia, ela registrou em boletim de ocorrência que teria sido agredida enquanto caminhava em Porto Alegre, no bairro Cidade Baixa, com um adesivo da bandeira LGBT e os dizeres “#EleNão” – mote dos protestos contra o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL). Outra possibilidade colocada pela perícia era de que os supostos agressores a tivessem impedido de reagir durante o ato, hipótese descartada pelos investigadores.
A avaliação é de que as imagens, oitivas e os cortes no corpo da jovem – superficiais, uniformes e paralelos – não corroboram com o caso denunciado. “São doze câmeras com visualização perfeita. Na área que ela percorreu, nenhuma mostra a jovem ou as pessoas que ela denunciou. Mais de vinte pessoas da região foram ouvidas e ninguém viu nada. Para quem levou soco na costela, não tinha marca nenhuma. A pele dela é alva, pele clara, as marcas apareceriam”, ressaltou o delegado.
Na visão de Jardim, a conclusão do caso é objetiva: ou foi autolesão ou foi ato de segunda pessoa com o consentimento da jovem. O delegado ainda contou que a denunciante sofre de “debilidade emocional” e “toma fortes remédios”. Caberá à Justiça decidir se ela é imputável.
No depoimento à polícia, a vítima descreveu os agressores como “mauricinhos da Padre Chagas” [rua em região de classe alta de Porto Alegre], conforme o delegado Paulo Cesar Jardim, responsável pelo caso, e continuou: “Eles não eram carecas, nem cabeludos. Também não tinham tatuagens”, descreveu o investigador.
Os agressores teriam distribuído socos e usado um canivete para marcar um desenho que remete à cruz suástica, símbolo do nazismo, nas costelas da jovem. Apesar de registrar a ocorrência e prestar depoimento, a mulher decidiu não representar criminalmente, e a investigação foi suspensa.
Os peritos destacaram que a jovem de fato sofreu uma lesão por meio de “objetivo contundente”. Os machucados, porém, não a deixaram incapaz de seguir com as ocupações habituais. Por outro lado, não havia evidência de lesões que indicassem reação da vítima à suposta agressão, conforme o laudo.