Nem bem o andor com a Nossa Senhora da Boa Viagem, seguido pelo andor de Nosso Senhor Bom Jesus dos Navegantes adentrou a igreja que leva o nome da santa lá em Itapagipe, o pau comeu. Logo no primeiro dia do ano e logo dentro da igreja e aos pés da Santíssima e do seu filho Santíssimo. Pasme, vez que a briga foi justamente pela premência em se fazer uma oração, louvar os donos do pedaço; ouvir o sermão do arcebispo e o discurso emocionado, politicamente correto e lúcido de dona Maria Helena, que foi amiga de Santa Dulce dos Pobres e hoje faz parte da irmandade e fiel depositária do manto de Nossa Senhora. E olha que ela falava de paz, da necessidade de uns cuidar dos outros, de se esquecer a querela política e de abrir os braços para os pobres.

Ela falando no púlpito e a porrada comendo no pórtico da Igreja de Nossa Senhora das Boa Viagem, por que um casal queria entrar de qualquer jeito, mesmo com a igreja já completa com o número adequado de fiéis, que era para ninguém pegar ômicron ou H3N2 e depois sair dizendo que nem mesmo a mãe de Deus estava servindo para proteger das pandemias. Foi preciso polícia.

Fazia tempos que eu não participava dos festejos em louvor ao Senhor dos Navegantes que ameaçou não ir pro mar por causa da tempestade sobre a Baía de Todos os Santos – e todos lembrando da tragédia no Sul e Oeste da Bahia com mais de 78 mil pessoas desabrigadas ou desalojadas.  472 mil pessoas pela chuva. Mais de 360 feridos. Muito choro e sofrimento. O santo fez seu novo milagre e a chuva passou na Baía de Todos os Santos e contrariando os prognósticos singrou em direção à Praia da Conceição e no dia seguinte voltou com tempo nublado, mas seguro. De surpresa e viajou em sua idosa galeota de mais de 100 anos de prestação de serviço.

Não foi somente por aqui que o ano de 2021 findou com porrada na fila do ferry boat no último dia do ano, com sequestro em Cajazeiras, com tiroteio no Alto de Coutos e tantos outros bairros. Não foi somente aqui que no primeiro dia de 2022, depois de todos desejarem um feliz ano novo, ocorrerem mortes por briga entre gangues na Boca do Rio. No Rio de Janeiro, em Copacabana teve facadas e arrastões. O pau comendo em Vitória do Espírito Santo e em Manaus. O primeiro fim de semana de 2022 começou com registros de brigas generalizadas em Belém. A Polícia Militar foi acionada na Ilha de Mosqueiro e em Icoaraci. No Vale do Jiquiriçá, aqui mesmo na Bahia, os voluntários ficaram particularmente sensibilizados com as pessoas brigando por água e comida; saindo no tapa.

Longe do nosso território pátrio doze peregrinos morreram e mais de uma dezena ficaram feridos em um tumulto em um santuário hindu na região indiana da Caxemira na manhã no dia 1º. Isso numa confusão que ocorreu dentro do santuário Mata Vaishno Devi quando enorme multidão de devotos tinha ido celebrar o início do ano-novo e pedir paz e prosperidade.

O que se deve fazer, diz dona Maria Helena (Santinha) que junto com dona Francisca Rodrigues de Miranda (Iaiá), esta falecida, sempre simbolizaram senhoras baianas das mais sábias, coerentes, equilibradas e de mentes abertas que conheci:

– Continuar orando e pedindo discernimento e proteção para os baianos e os brasileiros. Seguir o ano inteiro desejando feliz ano novo.

Acho que Santa Dulce dos Pobres, sua amiga, diria a mesma coisa.

Feliz 2020. Sem pandemias, enxurradas ou porradas.

*Jolivaldo Freitas

Escritor, jornalista e publicitário. Autor do livro Histórias da Bahia -Jeito Baiano

Foto Capa – Sarah Gamos – Arquidiocese de Salvador

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