Viramos uma ilha. Somos boçais aos olhos do mundo. Nosso presidente tentou ser palatável perante os países que fazem parte da ONU. Mas não é do seu, sua educação e sua formação e nem pertence ao seu DNA ser o que não é. Pareceu, perante a comunidade internacional de países na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, na manhã de terça (24) que estávamos na Guerra Fria. Foi um mico. Não buscou a ajuda de especialistas para aprender, antes de sair e fazer, a ler o discurso no teleprompter. Sua intervenção ideológica parecia leitura de documento feito por assessor ou secretária para conhecimento interno. Não tinha magnitude para ser interessante para a comunidade política mundial. Foi fraco, inábil e amador.
Para Bolsonaro a Guerra Fria ainda continua batendo na porta. Insiste em bater no socialismo que virou espectro faz tempo e como uma vizinha raivosa passou a ofender e a “se vingar” com as palavras, dos seus inúmeros desafetos criados em alguns meses de exposição que já são universais. Usou bastante informações pseudocientíficas para justificar as questões amazônicas e saiu menor do que entrou – e olha que já não tinha lá toda estatura. O Brasil também encolheu.
Tem quem critique ele lavar roupa suja fora de casa, quando denuncia que o governo petista que o antecedeu fez mal, roubou, cooptou e está sendo punido com o rigor que realmente merece. Nessa parte ele está certo, mas a ONU não é o ligar adequado para uma questão, digamos, doméstica. O problema é que Jair Bolsonaro que é uma pessoa rude e intelectualmente ou culturalmente limitada tem sido assessorado por pessoas idem e que se acham a consciência do rei. E Bolsonaro se deixa levar, acreditando piamente e lê, professa dogmas e faz evocações baratas, tenta passar força e convicção com a intenção de mostrar uma autoestima alta, mas que se mostrou mambembe e que não foi pior pela ajuda providencial obtida do maluco Donald Trump.
Fora e dentro da nossa Ilha de Vera Cruz – lembrando que foi primeiro nome recebido pelo Brasil pelos portugueses “descobridores”-, o presidente viu que muitas entidades da sociedade civil manifestaram repúdio às suas declarações na ONU. O pessoal de defesa do meio ambiente e dos direitos indígenas criticou no instante seguinte os trechos do discurso em que aborda a questão da Amazônia e dos povos tradicionais da região. Quando ela nega dados e fatos que mostram o nível assustador da devastação da Amazônia e outros biomas do país e ataca lideranças indígenas, abertamente, dá espaço para a Anistia Internacional denunciar como falsário. Nos Estados Unidos quatro representantes da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil repudiaram suas afirmações. Não queria dizer, mas não se pode ser hipócrita numa triste hora. Foi uma vergonha para o Brasil que deixou de lado sua tradicional liderança em termos de meio-ambiente.
O posicionamento oficial do Observatório do Clima é comprobatório. Quando se expressou na assembleia da ONU Jair Bolsonaro consolidou o estigma do nosso país como o novíssimo vilão global. Claro, vai ter reflexo na economia, pois, como disse um ideólogo norte-americano “It’s the economy, stupid”. Sua fala começou a afugentar investidores estrangeiros que querem estabilidade para fazer investimentos de longo prazo. Os dólares começam a correr para o Chile e a Índia. Realmente a atitude belicosa de Bolsonaro e dos seus embaixadores e do néscio ministro de Relações Exteriores é fazer valer o que Rio Branco ou Ruy Barbosa chamariam de antidiplomacia. O Brasil nunca foi tão tóxico como nos 31 minutos de fala de Bolsonaro.