Bem, meus caros leitores, resolvi explorar nesta semana, depois de fazer uma contagem regressiva a meia-boca, o meu lado prosa, com toques de ensaísta, contador de causo que é o que sou em verdade.

Sempre fui apaixonado pelo natal, como a média geral do seres humanos, mas isso só ate um tempo longínquo atrás, quando me deparei com certas essências que acredito perdido e que não me fazem propriamente falta, muitas vezes a verdadeira riqueza esta no menos e não no mais.

Sou um leitor fervoroso porem nunca li um Conto de Natal de Charles Dickens, porem já vi varias vezes na televisão a representação e, inspirado nele, no mundo que vivemos, nas pessoas que conhecemos, na realidade, escrever o meu conto pelo natal. Vamos lá, espero que gostem.

O fim do ano se aproximava com a velocidade típica, com todas as suas mazelas que já conhecemos e com todos os artifícios que nos impõem o mundo moderno, mundo consumista e gastador.

Miguel se sentia extremamente pressionado por esta época, Na verdade, a partir do dia primeiro de dezembro, já começava a suar frio, não que ele se preocupasse com presentes, ceia, amigos secretos, coisas do gênero, mas por tudo que via e ouvia nas ruas, nos rádios, nas televisões, até nos carros de som que transitavam malucamente pela sua cidade, impondo a mercancia do natal.

As pessoas passavam de um lado para o outro ainda mais apressadas do que o normal, carregadas de embrulhos, embrulhinhos, embrulhões (acreditem se quiserem), sacolas, sacolinhas, sacolões, pacotes, pacotinhos, pacotões. Compras de supermercado era uma festa, todo mundo querendo garantir a ceia de natal. Traduzindo, um fim de ano típico, essencialmente, normal.

A normalidade causava uma dor estranha a Miguel. Ele se perguntava se os outros eram normais e ele anormal. Se os outros estavam certos e ele errado. Se eles eram sãos e ele doido, pois não pactuava com nada daquilo que via.

Ao entrar em casa sua mulher Ana e os filhos Pedro e Maria o recebiam com a alegria de sempre, uma festa única. Ali repousava da loucura.

Se deliciava em suas músicas, em seus livros e em seus cachorros.

O cheiro da comida caseira inebriava seus sentidos.

Vida simples, casa simples, família simples, comida simples, até os cachorros eram simples, tudo SRD.

Ser simples nos dias de hoje, com as pressões, não é tarefa fácil.

Deitou-se, fechou os olhos e começou a ouvir o silencio. Simplesmente delicioso. Nem a rua fazia barulho, pelo contrário, o silencio era a música naquele momento.

Respirou profundamente, buscando ar para os pensamentos silenciosos. Que delicia, pensou consigo mesmo.

Uma lufada de ar repentina entrou pela janela, apesar do calorão que fazia e que era abrandado pelo ventilador de teto, um luxo do natal passado, para o seu quarto e o quarto das crianças, graças ao seu decimo terceiro.

Ser simples tem suas alegrias, tem suas compensações, porem pode ter o seu preço também, afinal nada é de graça neste mundo.

Embalado pelo silencio, pela brisa que entrava, pelo cansaço e peso do ano, adormeceu.

Adormeceu e viajou, foi para épocas distantes, para lugares que há milhares de ano ele não via, não reconhecia, mas estavam ali presentes, sorrateiros em seus sonhos. Por fim reconheceu onde estava. Estava na casa paterna, estava em sua infância, estava em um passado há muito esquecido. Estava feliz!!!

Continua…

 

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