Conduzido por pesquisadores do Nebraska (EUA), o estudo pretende quantificar as águas dos rios e aquíferos para implantar uma política sustentável de uso
Uma pesquisa desenvolvida pela equipe da Universidade de Nebraska, dos Estados Unidos, em parceria com a Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais, foi apresentada a agricultores, agrônomos, ambientalistas e representantes de ONGs e Comitês de Bacias Hidrográficas, nesta quinta-feira (01), durante o I Seminário Internacional de Pesquisa Científica para Políticas Públicas de Gestão Sustentável dos Recursos Hídricos, que ocorreu no auditório da Aiba/Abapa, em Barreiras.
O estudo, ainda em andamento, já revela em sua primeira fase dados consistentes, capazes de assegurar o melhoramento das relações das águas superficiais e subterrânea, tendo uma ideia da profundidade que é estimada em 70 metros. Para chegar a esse número, foi elaborado um mapeamento das bacias dos rios de Ondas, Fêmeas e Rio Grande, com aproximadamente 17 mil Km², dos quais 25% correspondem ao tamanho do aquífero.
De acordo com o diretor do Institute Water for Foods, da Universidade do Nebraska, neste primeiro momento, a pesquisa visa conhecer a realidade hídrica da região, através do monitoramento, e somente em etapas seguintes desenvolver um modelo de gestão para o seu múltiplo uso, que vai desde o abastecimento humano e dessedentação animal até a utilização por indústrias e pela agricultura.
“O estudo que foi desenvolvido não é baseado apenas na água que se usa para beber, tomar banho, etc…, mas em toda a sua utilização, como vestuário, alimentação e produtividade. Nossa meta é aumentar a produção desses bens reduzindo a pressão aos recursos hídricos. E isso é completamente possível, prova é o modelo de gestão que é adotado no Nebraska, um estado praticamente desértico, mas que é referência em agricultura irrigada, com captação de água subterrânea”, alegou.
O Instituto e os produtores rurais do Nebraska estão trabalhando em pesquisas que podem melhorar a produtividade, respeitando os limites do meio ambiente, a exemplo do que é realizado no estado norte-americano, onde se capta e utiliza as águas subterrâneas em grande quantidade sem perder a capacidade de gerenciamento dos seus aquíferos.
Para a agricultora e presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Luís Eduardo Magalhães, Carminha Missio, as informações apresentadas pelos pesquisadores americanos servem como uma alerta no manejo do sistema hídrico da região. “Eu tenho a impressão de que serve como um despertar, pode não ter que se aplicar objetivamente da maneira que eles aplicaram lá, mas ela serve como uma referência para nós começarmos nossas pesquisas aqui e aprofundarmos nossos estudos”, detalha.
Segundo o professor da UFV e coordenador da pesquisa, Everardo Mantovani, é preciso desmistificar o vilanismo da irrigação. Na sua concepção, a agricultura irrigada está preocupada não só com a água, mas com a energia e todas as questões ambientais, sociais, bem como mão de obra. “O Oeste da Bahia tem em torno de 2,4 milhões de hectares plantados. Desses, 160 mil são irrigados, ou seja, apenas 6%. E esse pequeno percentual gera cerca de 25% de toda renda agrícola da região. Então é uma agregação de valor muito grande”, explica. “Este estudo não irá balizar apenas os agricultores, mas todo o Estado, sobretudo os órgãos ambientais que terão dados reais, técnico-científicos para subsidiar suas atividades de concessões e fiscalizações”, completa.
O presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), Júlio Cézar Busato, ressalta que o mais importante da pesquisa é revelar dados reais que possam esclarecer não só os agricultores, mas toda sociedade, dando, assim, segurança para quem quer investir e para quem vai usufruir desses investimentos. “Quantificar a água existente em nossa região é o primeiro passo para garantir a nossa segurança hídrica, alimentar e energética. Se o estudo apontar que temos água suficiente para ampliar a produção, quem quiser o poderá fazer, mas se essa pesquisa revelar que temos que retroagir na produção tenham certeza que nós recuaremos o quanto for necessário, porque o que nós buscamos é produzir com sustentabilidade”, disse, se referindo à área irrigada.
O presidente da Associação dos Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), Celestino Zanella, falou da importância das informações compartilhadas. “Conhecimento é sempre bom e poder compartilhá-lo é essencial. É isso que pretende esse estudo técnico-científico: ampliar dados verídicos, para que possamos rebater teses inconsistentes e baseadas em achismo”.
Ascom Aiba