Nem o presidente da Câmara Municipal de Feira de Santana, José Carneiro (PSDB), nem um ator profissional contratado por adversários para malhar o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM). O autor do áudio que correu o mundo com xingamentos ao prefeito no dia em que se tornou pública sua decisão de não concorrer ao governo do Estado é o jovem Jorge Lins, de 19 anos, que deixou o DEM na mesma sexta-feira revoltado contra a decisão de ACM Neto de desistir de disputar a sucessão estadual.
Conhecido defensor do nome do prefeito de Salvador na região, onde muitos comparam seu dom de falar ao público com o de ACM Neto, Lins está surpreso com a repercussão que a mensagem alcançou, mesmo porque não era do seu interesse que isto ocorresse. Imensamente cobrado por causa da decisão do prefeito de Salvador no fatídico dia, ele gravou duas mensagens. Uma, justificando a decisão de Neto, foi encaminhada aos adversários e buscava, apesar de sua indignação, preservar o político.
A outra, em que fez o forte desabafo e acabou passando dos limites nas críticas à decisão de ACM “pela contundência”, foi dirigida a seu grupo mais restrito de WhatsApp, um dos 50 que criou na região para divulgar a candidatura do prefeito ao governo. O tempo de diferença entre uma declaração, de apoio, e a outra, de desabafo, foi de oito minutos, calcula. Teria expressado o crescimento da imensa pressão que recebeu por causa da decisão de ACM Neto, inclusive das chacotas e para “mudar de lado”.
O que ele não esperava é que a divulgassem nem a atribuíssem ao presidente da Câmara de Feira, que havia feito críticas na mesma semana à indecisão de ACM Neto. Preocupado em que o vereador fosse responsabilizado em seu lugar, Lins decidiu assumir a autoria da mensagem. Agora, pensa em gravar um vídeo se retratando não pelo que falou, mas pela intensidade utilizada, que, depois de um final de semana de reflexões, chegou à conclusão de que não precisava ser tão forte. Antes das declarações, Lins rasgou, com uma tesoura, um presente que recebeu do presidente do Democratas Jovem, Lucas Moreno.
Era uma camisa, mandada confeccionar pelo partido do prefeito, com a inscrição “Salvador tem, a Bahia quer”, numa referência à candidatura de ACM Neto. “Coragem é um instrumento importante para muitas coisas, até para ser humilde”, afirma o jovem, para quem Neto destruiu o sonho que tinha dele como seu líder político. Lins é recepcionista de um hotel de sua família em Juazeiro, no qual trabalha sem regalias. O resto do tempo é usado para fazer política com o coração. Além de atividades típicas da juventude.
Ele justifica sua revolta: “A decisão de Neto não é só do prefeito ACM Neto. Envolve a mim, prefeitos, lideranças, deputados, aliados, todas as pessoas que se dispuseram a dar sua colaboração em favor do nome dele em todo o Estado da Bahia”, diz o recepcionista, afirmando que o prefeito tinha o direito de não ser candidato, só não podia decidir no último dia, sem dar alternativa alguma aos aliados nem àqueles que o defendiam com unhas e dentes como ele. Quando a campanha começou a esquentar, ele chegou a usar uma imagem sua com Neto para ser identificado no WhatsApp.
Lins não está preocupado com as notícias de que seria alvo de uma queixa-crime por causa da gravação. Diz que está disposto a pedir desculpas ao prefeito espontaneamente pela forma como falou e não por sua intenção, que era mostrar toda a sua indignação. “Na vida, é necessário se dispor, ter coragem, às vezes no calor da emoção falamos palavras inadequadas. Pediria desculpas pela intensidade das palavras não pela intenção”, afirma, observando que expressou o que todos os apoiadores gostariam de ter dito.
“Expressei, ainda que indelicadamente, as palavras de milhares de baianos que deixaram algo, enfrentaram poderosos por ele (ACM Neto). Falei o que todos gostariam de ter falado”, completa Lins, que começou a se envolver com política entre os 15 e 16 anos sem ter ninguém na família dedicado à atividade. “Eu gosto, acredito que com a política e com a coragem se muda a vida das pessoas”, declara.