O deputado João Gualberto (PSDB) anunciou nesta terça-feira (14) que deixará de concorrer à reeleição para a Câmara dos Deputados. Pode até parecer surpresa para uma figura que até três meses atrás almejava ser candidato ao governo da Bahia, depois da permanência de ACM Neto na prefeitura de Salvador. No contexto político, o é. No entanto, em conversas reservadas, Gualberto manifestava desalento há tempos com o Congresso Nacional. Pareceu desacreditar da política tanto quanto alguns milhares de brasileiros, ainda que tenha sido um agente dela.
A decisão de sair da disputa não é meramente motivada por questões pessoais. Sim, isso pesou e é inegável, como ele relatou aos veículos de imprensa baianos. Como um homem fiel ao partido, não deixa de ser um recuo para favorecer a manutenção de, no mínimo, duas cadeiras do PSDB da Bahia na Câmara, frente às atuais três. Gualberto era considerado o provável puxador de votos dos tucanos e deixaria os correligionários Antonio Imbassahy e Adolfo Viana disputando com unhas e dentes um mandato. Ao deixar a disputa, abre espaço para que os dois tenham uma eleição menos tensa.
A opção dos tucanos por sair isolado foi uma decisão partidária, com grande influência de Gualberto, que defende certo distanciamento de outros partidos políticos. Ainda assim, passou por ele a costura para unificar a oposição em torno do nome de José Ronaldo (DEM) e da indicação de Irmão Lázaro (PSC) para a corrida ao Senado, ao lado de Jutahy Magalhães Jr (PSDB). Ao longo dos 14 anos de vida política, o presidente estadual do PSDB conseguiu amealhar expertise para desembolar emaranhados de alianças. Conseguiu sair sem feridas públicas.
Empresário do ramo de supermercados, Gualberto é um homem de sucesso nos negócios. Em 2014, quando foi eleito deputado federal, era o mais rico entre os postulantes ao posto na Bahia. Passou por dois mandatos à frente da prefeitura de Mata de São João e acompanhou a transformação de Praia do Forte em um dos principais destinos turísticos do litoral norte da Bahia. Tem o tino para ser executivo, como pontuou ao Bahia Notícias quando confirmou a sua retirada da disputa eleitoral deste ano.
Durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff, quando acompanhei as votações em Brasília, Gualberto já reclamava da atuação dos colegas de parlamento. Segundo ele, a disputa por interesses era maior do que os interesses do país e aquilo o incomodava profundamente. Como integrante da classe política, o discurso até parecia demagógico. Todavia, pareceu sincero.
Dois anos depois, quando poderia ser candidato à reeleição em uma situação confortável, optou pelo recolhimento voluntário. O tucano pretende atuar na campanha de Geraldo Alckmin à Presidência da República, de quem foi entusiasta desde a derrocada do então grão-tucano Aécio Neves. Entretanto, não deve mover mundos e fundos para a campanha estadual. Afinal, como empresário com experiência na área comercial, sabe que nem todo investimento é válido.
Engana-se quem acredita que Gualberto renunciou à vida pública. Quando questionado se iria se retirar da vida política local, o tucano deixou espaço para um eventual retorno para concorrer a uma função executiva. Se os planos irão mudar, apenas o tempo irá dizer. Para alguns, fará falta. Para outros, nem tanto. Para os eleitores, sobra o desalento que até mesmo um político tem com a política.