A demência por corpos de Lewy (DCL), diagnosticada no cantor Milton Nascimento e confirmada pela família nesta quinta-feira (2), é um dos tipos mais comuns de demência. Milton Nascimento, de 82 anos, já havia recebido diagnóstico de Parkinson.
O nome Lewy se refere a depósitos anormais de proteínas chamadas alfa-sinucleínas dentro dos neurônios. Esses aglomerados dificultam o funcionamento das células nervosas e são considerados a principal marca patológica de demências, como o Parkinson, por exemplo.
Essas proteínas alteram a comunicação entre os neurônios e afetam áreas ligadas à memória, ao pensamento, ao movimento e ao comportamento. Ou seja, comprometem funções cognitivas, motoras e comportamentais.
A DCL é a segunda forma de demência neurodegenerativa mais comum, depois do Alzheimer. Estima-se que a demência por corpos de Lewy esteja presente em cerca de 10% dos casos de demência. Existe também a demência vascular, que é a segunda depois do Alzheimer, mas esta não é considerada uma demência neurodegenerativa.
Parkinson e demência com corpos de Lewy
Ao analisar o cérebro do paciente, a doença de Parkinson e a demência com corpos de Lewy levam às mesmas características patológicas, explica a neurologista e pesquisadora do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e do Hospital Israelita Albert Einstein Jacy Parmera. Mas há particularidades de cada uma delas:
- doença de Parkinson: a demência ocorre depois dos achados motores e afeta mais a memória. É mais comum aparecer na faixa dos 65 anos, mas não é exclusiva do idoso, podendo atingir pessoas a partir dos 40 anos.
- demência por corpos de Lewy: primeiro aparece o quadro cognitivo e depois surgem as alterações motoras. Não afeta tanto a memória, mas sim as disfunções executivas. É mais senil, sendo mais comum a partir dos 70 anos. O paciente passa a ter mais desatenção, diminuição da velocidade de processamento, dificuldade da resolução de problemas e parkinsonismo associado (tremores). Outras características clínicas muito sugestivas são alucinações visuais, flutuações cognitivas e alteração do sono, chamada transtorno comportamental do sono REM. O paciente pode estar eventualmente muito bem e eventualmente muito mal.
Regra de um ano
Os médicos diferenciam a doença de Parkinson da demência por corpos de Levy usando a chamada regra de um ano:
“Se as alterações cognitivas surgirem antes do quadro motor ou até um ano antes do quadro motor, a gente considera Lewy. Se a demência surgir em mais de um ano depois do quadro motor, a gente considera doença de Parkinson. É uma diferenciação mais clínica, porque do ponto de vista anatomopatológico, elas representam a mesma doença”, explica Parmera.
A doença de Parkinson é a segunda doença neurodegenerativa mais comum no mundo, atingindo cerca de 10 milhões de pessoas. Ela cresce mais do que a doença de Alzheimer, porque não acompanha a curva de envelhecimento populacional.
Estima se que cerca de 1,5% da população mundial acima dos 60 anos possa apresentar doença de Parkinson.
Tratamento sintomático
O tratamento para a demência por corpos de Lewy é feito com medicações também usadas para a doença de Alzheimer, como anticolinesterásicos e memantina.
Estes medicamentos, embora tenham sido desenvolvidos para o Alzheimer, às vezes melhoram até mais o quadro de demência por corpos de Lewy do que da doença de Alzheimer, segundo Parmera.
Para a parte motora, os médicos tratam com medicações que costumam ser prescritas para a doença de Parkinson. Esses remédios, como a levodopa, geram uma reposição dopaminérgica, aumentando os níveis de dopamina no cérebro.
Outras medicações com mais efeitos colaterais são prescritas somente para a doença de Parkinson e não para a demência com corpos de Lewy.
Os quadros neuropsiquiátricos de depressão e irritabilidade são tratados também com antidepressivos. “De toda forma, é um tratamento difícil. Não tem cura. O tratamento é sintomático”, diz Parmera.
Fonte//G1