A pré-candidatura de Romeu Zema (Novo) à Presidência da República marca um novo capítulo na tentativa de consolidação de um projeto liberal no Brasil. O governador de Minas Gerais, que despontou como outsider em 2018 e consolidou sua reeleição em 2022 com mais de 56% dos votos, enfrenta agora o desafio de transformar popularidade regional em competitividade nacional.
Com aprovação de 63,6% de seu governo, segundo o Paraná Pesquisas (08/10), Zema figura entre os governadores mais bem avaliados do país. No entanto, seu capital político permanece concentrado em Minas — o segundo maior colégio eleitoral do Brasil e considerado o “espelho do país”. Desde 1989, quem vence em Minas, vence o Brasil (com exceção de 2014). Ainda assim, Zema encontra dificuldades para romper as barreiras estaduais e nacionalizar sua imagem.
Pesquisas recentes da Quaest (09/10) indicam que, num cenário sem Bolsonaro, Zema aparece com apenas 4% das intenções de voto, atrás de Tarcísio de Freitas (18%) e Ciro Gomes (12%). Em confronto direto com o presidente Lula, perde com margem de 47% a 32%. A estagnação reflete um dilema estrutural: embora possua um discurso técnico e moderado, Zema ainda é visto pelo eleitorado bolsonarista como “liberal demais” e “pouco combativo”.
No campo digital, o governador demonstra força e consistência, mas não hegemonia. Nos últimos dois meses, somou 122 publicações no Instagram, alcançando 2,9 milhões de interações e 46 mil novos seguidores — números expressivos, porém inferiores aos de Ratinho Jr. e Tarcísio de Freitas, que lideram tanto em crescimento quanto em taxa de engajamento. As postagens com melhor desempenho de Zema são aquelas que tratam de ações em Minas e críticas diretas ao governo Lula, evidenciando que seu público responde melhor quando ele adota um tom de enfrentamento político.
As menções positivas a Zema nas redes sociais (42,28%) superam as negativas (16,54%), mas o índice de neutralidade ainda é elevado, o que indica baixa polarização e, consequentemente, menor capacidade de mobilizar paixões políticas — ativo essencial em tempos de comunicação afetiva e identitária.
No cenário eleitoral, a projeção é de baixa competitividade em 2026, com chances de vitória estimadas entre 10% e 15%. Zema dependeria de uma profunda desidratação de Bolsonaro e da ausência de Tarcísio para ocupar o espaço da direita. Seu melhor desempenho potencial está em uma composição de chapa com o governador paulista, formando uma aliança SP–MG que representa quase 35% do eleitorado nacional. Nesse arranjo, as projeções indicam uma disputa acirrada com Lula no segundo turno (46% a 42%), caso o apoio bolsonarista se mantenha.
A hipótese de uma chapa Tarcísio–Zema oferece vantagens táticas e simbólicas. Tarcísio mobiliza o eleitorado popular e o bolsonarismo orgânico; Zema agrega credibilidade econômica, serenidade institucional e discurso técnico. No entanto, o risco político é claro: tornar-se um “vice decorativo” e perder protagonismo imediato — ainda que tal posição o projete para 2030 como sucessor natural de uma eventual continuidade liberal-conservadora.
Em síntese, Romeu Zema enfrenta o dilema clássico dos projetos liberais no Brasil: alta capacidade de gestão, baixo apelo de massa. Sua candidatura própria em 2026 tende a reforçar sua marca como líder racional, mas de pouca viabilidade eleitoral imediata. Já uma aliança como vice de Tarcísio pode colocá-lo no tabuleiro nacional com reais chances de vitória, ainda que ao custo de sua autonomia.
O que está em jogo, portanto, não é apenas uma eleição, mas o futuro do liberalismo político no Brasil — entre o cálculo racional e o pragmatismo eleitoral.
Texto//Yuri Almeida – estrategista político, professor e especialista em marketing eleitoral